O Ibovespa encerrou esta sexta-feira em alta, sustentando o patamar dos 160 mil pontos, após passar em queda na manhã desta sexta, 26, e se recuperar na parte da tarde, mas sem fôlego consistente. O pregão foi marcado por liquidez reduzida após o feriado de Natal, refletindo ajustes técnicos e influência do noticiário político.
O Ibovespa fechou em alta de 0,27%%, aos 160.896,64 pontos. A máxima do dia foi de 160.913,32 pontos (+0,29%) e a mínima, de 159.358,93 pontos (-0,68%).
Segundo Felipe Cima, analista da Manchester Investimentos, o mercado mostrou algum sinal de recuperação na reta final, renovando máximas intradia dentro de uma faixa estreita. Para ele, a bolsa segue em compasso de espera, especialmente em relação ao cenário eleitoral. Cima avalia que, apesar da carta do ex-presidente Jair Bolsonaro endossando a pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro, parte relevante dos investidores ainda trabalha com a hipótese de que esse desenho possa mudar até abril, quando as campanhas passam a ser formalizadas. “A grande questão é se Flávio Bolsonaro conseguirá reduzir sua rejeição até lá”, afirma.
Na avaliação de Gabriel Uarian, analista CNPI da Cultura Capital, o movimento do dia deve ser interpretado como um ajuste técnico em semana encurtada e de baixa liquidez. Para ele, o mercado já precifica uma disputa eleitoral acirrada em 2026 e mantém prêmio de risco elevado, sem sinais de mudança estrutural no humor para o encerramento de 2025. “Sem catalisadores negativos novos ou fortes, o viés segue de consolidação ou leve recuperação até o fim do ano”, diz.
Guilherme Falcão, sócio da One Investimentos, também ressalta que a liquidez mais fraca já era amplamente esperada entre Natal e Ano Novo. Segundo ele, o pregão foi influenciado pelo noticiário eleitoral, com a divulgação de nova pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas indicando avanço das intenções de voto de Flávio Bolsonaro em um eventual segundo turno contra o presidente Lula, além da confirmação formal do apoio de Jair Bolsonaro ao filho.
No desempenho setorial, as ações da Vale sustentaram alta ao longo da tarde, ajudando a conter perdas do índice, enquanto os papéis da Petrobras permaneceram pressionados, acompanhando a forte queda do petróleo, embora tenham reduzido perdas na reta final e fechando em alta.
Os bancos, por sua vez, mostraram alguma recuperação ao longo da tarde, após digerirem dados do Banco Central do Brasil sobre queda nas concessões de crédito, mas seguiram sensíveis ao cenário eleitoral.
Dólar
A venda de US$ 2 bilhões em dois leilões de linha cambial (venda com compromisso de recompra) pelo Banco Central até chegou a fazer o dólar operar em viés de baixa, mas o ambiente de liquidez reduzida após o feriado de Natal fez a divisa americana inverter o sinal à tarde.
O movimento de alta do dólar ante o real também acompanhou a queda do petróleo no cenário internacional, o que penaliza as moedas de países exportadores da commodity, como o Brasil. Segundo operadores, o dia operou no ritmo de final de ano, em um ambiente de volume reduzido de negócios, que se ampliou durante à tarde.
Com a mínima a R$ 5,5208 e máxima a R$ 5,5668, o dólar fechou em alta de 0,24%, cotado a R$ 5,5446. Na semana, o dólar acumula alta de 0,27% e de 3,93% no mês, mas perde 10,28% no ano.
Na última terça-feira, 23, o dólar voltou a cair após sete pregões consecutivos de alta. O ambiente de baixa liquidez, com saída de remessas ao exterior contribuiu para as valorizações consecutivas da moeda americana. O País registrou fluxo cambial negativo de US$ 6,472 bilhões na semana passada, conforme divulgou hoje o BC. Entre os dias 15 e 19 de dezembro, o canal financeiro apresentou saídas líquidas de US$ 8,085 bilhões.
Segundo fontes do mercado, os envios ao exterior foram intensificados neste ano com a mudança tributária sobre os dividendos. Para tirar a pressão sobre o real, na ocasião, o BC vendeu US$ 500 milhões em dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra), o que injetou liquidez no mercado.
“Os últimos dias têm mostrado um volume menor de negócios, e qualquer movimento contribui para uma alta ou para uma queda mais exacerbada”, avalia o gerente de câmbio da Nippur Finance, Rodrigo Miotto. Além disso, acrescenta, o movimento sazonal de envio de lucros e dividendo ao exterior também contribui para o comportamento de alta da moeda americana.
Só na última semana, o BC vendeu US$ 2 bilhões em dois leilões de linha (com compromisso de recompra) na última sexta-feira, 19; US$ 500 milhões, de uma oferta total de US$ 2 bilhões, em leilão de linha na terça-feira, 23; e US$ 2 bilhões em dois leilões de linha não atrelados à rolagem nesta sexta-feira, 26.
Miotto ainda considera que os leilões de linha do BC não têm provocado um efeito tão expressivo na taxa de câmbio na comparação com o ambiente externo e com o cenário político doméstico.
Segundo a Armor Capital, o destaque político nesta semana ficou para a carta de Jair Bolsonaro escrita à mão, na qual explicitou apoio à pré-candidatura de seu filho, Flávio Bolsonaro, à Presidência da República nas eleições de 2026. “Nesse contexto, o real apresentou desempenho inferior ao de seus pares”, comenta.
Juros
Após subirem pela manhã, os juros futuros cederam no período da tarde, mediante liquidez reduzida nesta sexta-feira, 26, entre o feriado de Natal e do Ano Novo, com ajustes de posição. Como pano de fundo, o cenário fiscal-eleitoral contou como destaque a carta do ex-presidente Jair Bolsonaro confirmando apoio à pré-candidatura do filho Flávio Bolsonaro, e pesquisa eleitoral fomentando a leitura de que outros nomes, inclusive do senador, possam ser competitivos o suficiente para um segundo turno contra o atual presidente Lula.
A taxa de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 caiu a 13,73%, de 13,828% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2029 cedeu para 13,22%, de 13,317%, e o para janeiro de 2031 fechou em 13,53%, de 13,608% no ajuste de terça-feira, 23. Em relação à semana anterior, houve leve fechamento na curva a termo.
O economista-chefe da BGC Liquidez, Felipe Tavares, menciona que é difícil dizer o que fez preço no mercado nesta sexta-feira, “semiferiado”, pois a liquidez está muito reduzida. Para ele, como não houve um movimento político ou dados macroeconômicos relevantes sendo divulgados nem no Brasil nem no exterior, o movimento da curva a termo na última sexta-feira de 2025 está relacionado mais a “só ajuste de posição mesmo”.
Entre os ativos que tendem a influenciar os juros futuros, o dólar à vista subiu 0,24%, a R$ 5,54, e a curva dos Treasuries se comportou de maneira mista, com a ponta curta em queda e a intermediária e longa, em leve alta.
Ainda assim, o fator que mais tem feito preço nos últimos pregões diz respeito ao cenário eleitoral, com operadores avaliando na lupa as chances de uma eventual troca de governo em 2026 que, na tese do mercado financeiro, renderia uma reforma fiscal benéfica para os ativos domésticos.
Na quinta-feira, 25, o senador e pré-candidato à Presidência da República, Flávio Bolsonaro, afirmou que recebeu com muita emoção a carta de seu pai. O documento em questão, divulgado ontem, menciona que a decisão do ex-presidente Jair Bolsonaro de indicá-lo é “amparada no desejo de preservar a representação daqueles que confiaram” nele.
A pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas mostrou o presidente Lula empatado tecnicamente com Jair Bolsonaro (PL), Flávio Bolsonaro (PL), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Michelle Bolsonaro (PL) e Ratinho Jr. (PSD). Segundo Tavares, da BGC, “o mercado está no trade de troca de governo, e precisa ver essa mudança de ciclo econômico para poder engatar no otimismo que deseja”. Neste sentido, o economista considera que o levantamento desta sexta-feira abre margem para a leitura de que “talvez não seja apenas Tarcísio que tenha competitividade suficiente para ganhar de Lula, porque o Flávio em menos de 30 dias de sua candidatura já está empatando com o Lula”, comenta.


