O dólar emendou nesta quinta-feira, 17, o quarto pregão consecutivo de alta e fechou acima de R$ 5,50, no maior nível desde o início de agosto, em meio a um processo de ajustes de prêmios de risco desencadeado pela percepção de aumento das chances de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A moeda americana também avançou no exterior, com ganhos em relação a divisas latino-americanas, o que pode ter contribuído para a depreciação do real.
Operadores afirmam que o resultado da pesquisa eleitoral da Genial/Quaest divulgada na terça continua a ecoar nos mercados ao amparar um desmonte do chamado “trade Tarcísio”, que se traduz na aposta em valorização dos ativos locais com a mudança da política fiscal a partir de 2027 com a ascensão do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao Palácio do Planalto no pleito de 2026.
Primeiro a trazer o nome de Flávio na disputa pela presidência, o levantamento da Quaest mostrou o senador do PL com intenções de voto superiores às de Tarcísio em eventual primeiro turno – o que sugere viabilidade da candidatura do filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro. Mais: o presidente Lula bate todos os postulantes da oposição em simulações de segundo turno.
Com máxima de R$ 5,5315, no início da tarde, o dólar à vista encerrou o pregão em alta de 1,10%, a R$ 5,5233 – maior valor de fechamento desde 1º de agosto (R$ 5,5456). A moeda americana acumula avanço de 2,20% nos últimos quatro pregões e de 3,53% em dezembro, após queda de 0,85% em novembro. As perdas da divisa no ano, que já superaram 14%, agora são de 10,63%.
O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, observa que os investidores trabalhavam com uma disputa acirrada pela presidência em 2026, com boas chances de vitória da oposição, quadro que se alterou com a entrada de Flávio Bolsonaro na disputa.
“Ficou mais difícil pensar em uma eleição competitiva. Com o aumento das chances de Lula ganhar, há um ajuste dos prêmios de risco”, afirma Lima, ressaltando que as pesquisas mostram que Flávio “tem votos”, o que reduz a possibilidade de o senador retirar seu nome do pleito.
A reeleição de Lula, pontua Lima, reforça a percepção de que será mantido o modelo de busca crescente de receitas com aumento de impostos para financiar o forte crescimento das despesas, em vez de um ajuste estrutural do lado dos gastos públicos. “Estamos vendo uma piora do câmbio por questões idiossincráticas, com aumento da incerteza local. Não houve mudanças relevantes no exterior”, diz o economista-chefe da Western Asset.
A Câmara dos Deputados aprovou na madrugada desta quarta o projeto de lei que reduz benefícios fiscais em 10%, recuperando ainda pontos da chamada “taxação BBB” (bancos, bets e bilionários), com impacto estimado em cerca de R$ 22 bilhões. O PL, que pode ser apreciado pelo Senado ainda nesta quarta, é visto como essencial para fechar as contas do ano que vem. A votação do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2026 – com meta de resultado primário de superávit de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB) – está prevista para esta quinta-feira, 18.
Segundo informações do portal Metrópoles, o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, teria dito a integrantes do mercado financeiro que Flávio será candidato ao Planalto, ao passo que Tarcísio tentará a reeleição ao governo de São Paulo. Ciro teria previsto que o filho de Bolsonaro será um candidato competitivo, mas deve perder as eleições para o presidente Lula.
Em relatório, o Citi afirma que ainda vê como “incerta” a candidatura de Flávio à presidência, lembrando que o senador já admitiu que pode retirar seu nome do pleito “dependendo do apoio” que receber para o perdão a seu pai, condenado por tentativa de golpe de Estado. O banco também chama a atenção para a rejeição elevada a Flávio e à possibilidade de o melhor desempenho do senador em relação a outros candidatos da oposição em simulações para o 1º turno estar relacionada ao maior conhecimento do seu nome.
A perspectiva era de que o real pudesse experimentar uma depreciação em dezembro com aumento das remessas a partir da segunda quinzena do mês, turbinado pela antecipação de pagamento de dividendos em razão das dúvidas que cercam a tributação imposta pelo projeto que ampliou a isenção do Imposto de Renda.
À tarde, o BC informou que o fluxo cambial total em dezembro, até o dia 12, é positivo em US$ 3,108 bilhões, graças à entrada líquida de US$ 4,254 bilhões pelo comércio exterior. Já o canal financeiro apresentou saídas líquidas de US$ 7,071 bilhões. Em novembro, o fluxo total foi deficitário em US$ 7,071 bilhões. No ano, é negativo em US$ 16,646 bilhões.
O economista Sérgio Goldenstein, sócio-fundador da Eytse Estratégia, observa que na semana passada (de 8 a 12 de dezembro) o fluxo total foi negativo em US$ 1,6 bilhão, com saída líquida de US$ 3,5 bilhões pelo segmento financeiro. “Vale notar que, segundo dados da B3, a posição comprada de investidores estrangeiros em derivativos cambiais aumentou em US$ 4 bilhões”, afirma Goldenstein, em nota.
Bolsa
Tributações aprovadas na madrugada pela Câmara dos Deputados, incidentes em bets, fintechs e JCP (juros sobre capital próprio), e novos sinais de esvaziamento do ‘trade Tarcísio’ – como ficou conhecida a aposta compradora em uma candidatura Tarcísio de Freitas à Presidência em 2026 – colocaram o Ibovespa em nível de fechamento semelhante ao do índice há quase duas semanas, na sexta-feira, dia 5. Aquela sessão foi apelidada de ‘Flávio Day’, quando o Ibovespa saiu de recorde intradia a 165 mil pontos para encerramento na casa dos 157 mil, no mesmo pregão.
Nesta quarta-feira, 17, vindo de perda de 2,40% no dia anterior, o Ibovespa caiu 0,79%, aos 157.327,26 pontos, com giro financeiro na B3 muito reforçado, a R$ 66,9 bilhões, mesmo para uma sessão, como a desta quarta, de vencimento de opções sobre o índice. No mês, acentua a correção, agora em baixa de 1,10% em dezembro, com recuo de 2,13% no agregado em três sessões nesta semana. No ano, o índice da B3 avança 30,80%. Da mínima à máxima, oscilou dos 156.350,81 até os 158.610,62 pontos, saindo de abertura aos 158.577,88 pontos.
“Hoje [quarta-feira], Petrobras e Vale subiram com o petróleo e o minério na sessão, mas não o suficiente para compensar a aversão a risco vista desde terça, não apenas com a força do presidente Lula em todos os cenários contra candidatos de oposição em 2026, mas também pelos sinais ainda duros sobre a política monetária do BC, na ata do Copom”, diz Rubens Cittadin Neto, especialista em renda variável da Manchester Investimentos. No fechamento, Vale ON, principal papel do Ibovespa, mostrava alta de 1,27%, e Petrobras, de 0,68% na ON e de 1,11%, na PN (máxima do dia no encerramento).
Na ponta ganhadora do Ibovespa, além de Vale, destaque também para Brava (+3,69%), Suzano (+1,78%), PetroReconcavo (+1,54%) e Bradespar (+1,35%). No lado oposto, Vivara (-5,10%), Porto Seguro (-4,41%), Direcional (-4,26%) e Assaí (-3,78%).
O mercado também processou a aprovação, na madrugada, na Câmara dos Deputados, do texto principal do projeto de lei que reduz benefícios fiscais em 10%, recuperando ainda pontos da chamada “taxação BBB” (bancos, bets e bilionários). “Aumento de imposto mais uma vez. Elevaram a tributação para bets, fintechs e a alíquota do JCP, juros sobre capital próprio, algo péssimo para a Bolsa brasileira”, diz Felipe Sant’Anna, especialista em mercado financeiro do grupo Axia. “Tudo isso em meio a cenário político complicado”, acrescenta.
Na frente política, o mercado tomou nota também da informação, do portal Metrópoles, de que o presidente nacional do PP, e um dos principais líderes do Centrão, o senador Ciro Nogueira (PI), teria “enterrado” a possibilidade de eventual candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) à Presidência da República em 2026, indicando que ele será candidato à reeleição em São Paulo – uma reeleição em que aparece como favorito, podendo deixar a candidatura presidencial para 2030, quando Lula não estará mais na disputa direta.
Para Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos, uma soma de fatores explica a correção ainda em curso na Bolsa brasileira, vindo de recorde de fechamento em 4 de dezembro, na quinta-feira que antecedeu a pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro, aos 164 mil naquele encerramento.
“Desde terça, os dados de emprego nos Estados Unidos, acima do esperado para novembro, já azedavam o mercado. E veio a pesquisa com Lula à frente de todos, mas também com crescimento de Flávio Bolsonaro em relação a Tarcísio, o que confunde o cenário de apostas para a eleição. Muita coisa no cenário, que traz uma dúvida maior para as próximas semanas, com realização na Bolsa e efeito perceptível no câmbio e na curva de juros, também”, diz Marcatti. “Há mais ruído do que fundamento no que tem ocorrido com relação à precificação dos ativos”, acrescenta.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou nesta quarta-feira, 17, que o almoço com empresários em São Paulo teve como objetivo “acalmar a torcida” e reduzir a animosidade em torno de sua eventual candidatura como nome da direita ao Palácio do Planalto. “Foi mais uma conversa para mostrar que, a cada dia que passa, a candidatura é mais forte, mais viável, e que será vitoriosa”, disse Flávio. “Para acalmar todos aqui com relação a essa torcida por parte de alguns, de querer causar animosidade entre (Jair) Bolsonaro, Tarcísio e outros partidos, como União Brasil, Progressistas, PSD, Republicanos.”
Juros
Ainda sob efeito da percepção de que o presidenciável da direita em 2026 tende a ser o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e de que a entrada do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na disputa presidencial está ficando cada vez menos provável, os juros futuros tiveram alta firme no pregão desta quarta-feira, 17.
Em linha com o aumento das preocupações sobre o quadro fiscal – já que um eventual novo governo Lula tenderia, na visão do mercado, a adotar política de gastos mais expansionista, ao passo que Tarcísio poderia implementar um ajuste nas contas públicas -, os vértices intermediários e longos da curva a termo operaram nos maiores níveis desde outubro na sessão.
A parte curta subiu, mas em menor intensidade, refletindo ainda o tom conservador da última ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, enquanto a falta de sinalização do comitê sobre o início de ciclo de cortes seguiu minguando apostas de redução em janeiro.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro avançou de 13,672% no ajuste de terça para 13,815%. O DI para janeiro de 2029 aumentou de 13,099% no ajuste anterior para 13,330% – maior patamar de fechamento desde 14 de outubro. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,635%, também maior nível desde 14 de outubro, vindo de 13,386% no ajuste. A curva dos Treasuries abriu levemente nesta quarta, mas o cenário externo ficou em segundo plano diante do estresse causado pelo quadro político local.
Ainda digerida pelo mercado e discutida nas mesas de renda fixa, pesquisa Genial/Quaest publicada nesta terça mostrou que o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro tem vantagem sobre Tarcísio entre eleitores de oposição ao presidente Lula. No fim desta tarde, Flávio disse que se reuniu com empresários na Faria Lima na última sexta-feira para mostrar que sua candidatura é “viável”, e também para “acalmar animosidades” sobre Tarcísio. Na noite de terça, reiterou que sua disputa na eleição é “irreversível”.
Sem nenhum fato concreto, mas avaliando sinalizações de ambos os lados do espectro político, os investidores estão pessimistas com a aparente resistência do senador em desistir de sua candidatura, ao mesmo tempo em que veem o nome de Tarcísio perdendo força, o que levou ao aumento dos prêmios de risco embutidos nas taxas futuras. Isso porque o governador é tido como o candidato que teria maior competitividade contra Lula e também como o mais propenso a equilibrar a política fiscal em 2027.
Economista-chefe da CM Capital Markets, Carla Argenta afirma que o mercado está cada vez mais atento às eleições do ano que vem. Argenta menciona não somente o levantamento publicado ontem, mas um conjunto de elementos que tem feito os investidores começarem a considerar que Tarcísio não será o candidato da oposição. “É o fator que impulsionou a parte longa da curva, com o mercado enxergando a maior probabilidade de um governo Lula 4. São movimentos políticos na pressão dos juros”, disse.
“Os dados de todas as pesquisas pavimentam este caminho para que o mercado não consolide mais o cenário de uma candidatura de Tarcísio. É um conjunto de levantamentos, boatos e mudança de percepção dos agentes”, observa Argenta, acrescentando que o próprio chefe do Executivo paulista nunca anunciou oficialmente que iria concorrer à presidência.
Segundo a economista-chefe da CM, o imbróglio político reforça sua perspectiva de que a Selic não será reduzida na primeira reunião de 2026 do Copom, mas sim em março. “Vamos avaliar se o Relatório de Política Monetária RPM traz alguma mudança das expectativas do Banco Central, mas não parece que vai cortar a partir de janeiro”, comentou.
Em revisão de cenário divulgada nesta quarta, o PicPay reduziu sua projeção para a Selic ao final do ano que vem, de 12,5% para 12%, mas também descarta flexibilização em janeiro. O corte deve ocorrer em março, mas está condicionado à consolidação da desaceleração da atividade, continuidade do arrefecimento dos núcleos de inflação e ausência de novos choques adversos, diz a instituição.



