O Ibovespa segue em modo de pulverização de recordes, nesta terça-feira, 2, pela primeira vez aos 161 mil pontos na máxima que coincidiu com o ajuste de fechamento. Foi a 15ª nova marca histórica no intervalo de 26 sessões que retroage a 27 de outubro, data a partir da qual costurou série de 12 ganhos. Nesta terça-feira, oscilou de 158.611,50 até 161.092,25 pontos, em alta de 1,56% no pico, no encerramento, tendo saído de abertura a 158.611,74, quase equivalente à mínima do dia. O giro foi a R$ 24,5 bilhões. Na semana e no mês, sobe 1,27%, colocando o ganho a 33,93% no ano.
Na reta final da sessão, o Ibovespa empurrou as máximas além do limiar de 161 mil pontos. O índice ganhou força com as declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que teve mais uma “boa conversa” com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem afirmou mais uma vez gostar. O diálogo foi sobre comércio e as sanções ao Brasil, acrescentou Trump, sem dar mais detalhes.
O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, disse que o presidente Lula não conversou com Trump sobre a tensão na Venezuela. E que o foco da conversa foi o combate ao crime organizado e as questões comerciais.
Entre as blue chips, com o petróleo em baixa de 1% em Londres e Nova York, o modesto desempenho de Petrobras – ao fim, positivo (ON +0,54%; PN +0,69%, na máxima do dia no fechamento), o que ajudou o Ibovespa a buscar novos picos – era o contraponto ao setor financeiro, que mostrou alta mais forte, até 2,62% (Santander Unit). Destaque também para Itaú (PN +2,23%), o principal papel do segmento, ação que encerrou, como o Ibovespa, o dia no pico do pregão.
Vale ON foi outro papel de peso a ter desempenho reforçado em direção ao fim do dia, em alta de 0,82%. Na ponta ganhadora, CVC (+6,63%), Vamos (+6,46%) e Localiza (+4,74%). No lado oposto, TIM (-0,74%), Pão de Açúcar (-0,50%) e Gerdau (-0,21%) – apenas cinco dos 82 papéis da carteira Ibovespa fecharam em baixa.
“Após uma segunda-feira de ajuste, o Ibovespa voltou a subir hoje, em amplitude maior do que a observada lá fora. O mercado está se posicionando para a flexibilização da Selic no próximo ano, e pesquisa eleitoral mostra aumento da preocupação da população com a segurança pública, o que tende a reforçar a candidatura da direita linha política preferida do mercado, pela percepção sobre a gestão das contas públicas na eleição de 2026”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. Em Nova York, os principais índices de ações mostraram ganhos de 0,39% (Dow Jones), 0,25% (S&P 500) e de 0,59% (Nasdaq) na sessão.
Pesquisa AtlasIntel/Bloomberg agradou ao mercado financeiro. Divulgado nesta terça, o levantamento trouxe aumento da rejeição do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 48,1% para 50,7%, enquanto a avaliação positiva recuou de 51,2% para 48,6%. O movimento interrompe a trajetória de recuperação observada desde agosto, e recoloca a administração do PT em terreno mais sensível. No cenário principal, Lula aparece com 48,4% das intenções de voto (de 51,3% em pesquisa de outubro), contra 32,5% de Tarcísio (de 30,4% antes). A margem de erro é de um ponto porcentual, com nível de confiança de 95%.
“O Ibovespa batendo recorde novamente, e o que mais parece ter impulsionado foi essa pesquisa, que mostrou a rejeição do governo subindo um pouco”, diz Rubens Cittadin Neto, especialista em renda variável da Manchester Investimentos. Ele acrescenta que o mercado tomou nota, também, da referência feita pelo presidente Lula, de que até março definirá se vai concorrer, ou não, à reeleição. “Isso pode ter aberto um otimismo no mercado, na medida em que o atual governo tem enfrentado algumas dificuldades de alinhar o fiscal, o que se reflete na taxa de juros. Não é o mercado sendo político, mas fazendo contas de inflação e juros.”
Na agenda econômica, destaque para a produção industrial de outubro, do IBGE, com desempenho aquém do esperado, com alta de 0,1% em relação a setembro, feitos os ajustes sazonais, o que reforça a percepção de desaceleração da atividade – leitura que contribuiu, nesta terça, para o fechamento da curva de juros e para impulsionar o Ibovespa, diz Bruno Perri, economista-chefe, estrategista e sócio da Forum Investimentos.
Ele chama atenção para o desempenho das ações cíclicas na B3 nesta terça-feira, segmento mais sensível ao ritmo de crescimento econômico, mas também aos juros. “Apesar de sinais de perda de ímpeto da atividade econômica no curto prazo, o fechamento da curva de juros ao longo de todos os vencimentos e o reforço nas apostas de que a Selic pode cair já em janeiro ajudaram esses papéis na sessão”, acrescenta Perri.
No noticiário corporativo, destaque para o Vale Day, realizado em Londres. O evento, diz o estrategista, teve reverberação “majoritariamente positiva” para a precificação de Vale ON na sessão. “O principal destaque foi a redução do guidance de produção, que sinalizou um planejamento menos agressivo, concomitante ao menor Capex esperado para os próximos anos”, diz. “Isso trouxe a percepção de que o fluxo de caixa da companhia e, principalmente, a distribuição de dividendos pode ser mais robusta nos próximos trimestres, conferindo resiliência à companhia em um cenário mais incerto para as cotações do minério”, acrescenta.
Dólar
O dólar apresentou queda firme nesta terça-feira e voltou a fechar abaixo da linha de R$ 5,33. Segundo operadores, o apetite ao risco lá fora abriu espaço para correção das perdas do real na segunda-feira, quando houve relatos de fluxo negativo e ajustes em posições de carry trade com a valorização do iene. O ambiente externo é marcado pelas apostas crescentes em redução de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) na próxima semana.
O real, uma das divisas que mais sofreu na segunda, apresentou nesta terça o segundo melhor desempenho entre as moedas emergentes e de países exportadores de commodities mais líquidas, atrás do peso chileno. Houve eventual entrada de recursos para a bolsa doméstica, em dia de alta de mais de 1% do Ibovespa, que ultrapassou pela primeira vez na história a marca dos 160 mil pontos.
A melhora das intenções de voto do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, na corrida presidencial de 2026, em pesquisa AtlasIntel/Bloomberg, pode ter ajudado a moeda brasileira. Ala relevante do mercado aposta que um candidato da oposição, caso vitorioso, pode conduzir um ajuste fiscal profundo a partir de 2027.
Com mínima de R$ 5,3292, o dólar à vista fechou em queda de 0,54%, a R$ 5,3303. Nos dois primeiros pregões de dezembro, a divisa tem ligeira depreciação (-0,08%), após recuo de 0,85% em novembro. No ano, a moeda americana cai 13,75%.
“O real se parecia um pouco mais que outras moedas emergentes hoje porque é mais líquido e caiu mais ontem. É mais um comportamento técnico”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, que vê um quadro de menor aversão ao risco por trás da valorização das divisas emergentes. “O ambiente é favorável com apostas majoritárias de corte de juros nos Estados Unidos”.
O economista sênior do Banco Inter, André Valério, chama a atenção para a aprovação pelo Senado do projeto que aumenta a tributação de Fintechs e Bets. O relatório aprovado estende a isenção de Imposto de Renda para distribuição de dividendos do ano-calendário 2025 apurados até 30 de abril de 2026. Antes, o prazo final de apuração era dezembro deste ano. “Isso retira um pouco da pressão da antecipação de remessas para escapar da tributação, o que levou o dólar às mínimas da sessão”, afirma Valério.
O índice DXY – que mede o desempenho da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes – operava em leve alta no fim da tarde, ao redor dos 99,300 pontos. Destaque para a queda de cerca de 0,30% do iene, que devolve parcialmente os ganhos da véspera, na esteira de sinais de alta dos juros neste mês por parte do Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês).
À tarde, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que deve anunciar o indicado para assumir a presidência do Fed no começo de 2026 e que tem apenas “um nome em mente”. O diretor do Conselho Nacional Econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, segue como o mais cotado. Trump revelou que o secretário do Tesouro, Scott Bessent, seria sua escolha favorita, mas que ele “não quer o cargo”.
No fim da tarde, Trump afirmou, quando questionado por repórteres na Casa Branca, que teve uma “boa conversa” com Lula. Falamos mais sobre o comércio e sanções econômicas contra o Brasil. Mas, sabem, gosto dele”, disse.
Taxas de juros
O alívio nos juros futuros negociados na B3 ganhou algum fôlego na segunda etapa do pregão desta terça-feira, 2, após a elevação das taxas observada na segunda-feira. Já embaladas pelo dado mais fraco que o esperado da produção industrial divulgado pela manhã e tendo como pano de fundo a queda do dólar, os DIs a partir do miolo da curva encontraram espaço para ceder um pouco mais em sintonia com a curva dos Treasuries.
Agentes citam, ainda, a aprovação, pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, do projeto de lei que aumenta a taxação de bets, fintechs, Juros sobre Capital Próprio (JCP) e algumas instituições financeiras como possível condutor adicional da queda.
A proposta, que será analisada pela Câmara, teve seu texto alterado e ampliado. Ainda não há nova estimativa oficial de arrecadação extra gerada pelo PL para 2026, mas a equipe econômica planeja atingir R$ 10 bilhões em receitas, ante R$ 5 bilhões previstos oficialmente – o que traz algum alento ao quadro fiscal para o próximo ano.
As bets, que atualmente pagam 12% de imposto, serão tributadas em 15% em 2026 e 2027. A partir de 2028, a alíquota sobe para 18%. A tributação do JCP aumenta de 15% para 17,5%. A Contribuição Social do Lucro Líquido (CSLL) de fintechs passa de 9% este ano para 12% no próximo. Para instituições de pagamento, sobe de 15% a 17,5%.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 diminuiu de 13,61% no ajuste anterior para 13,57%. O DI para janeiro de 2029 recuou de 12,757% no ajuste para 12,67%. O DI para janeiro de 2031 ficou em 12,905%, vindo de 13,001% no ajuste.
“Esse projeto que eleva a arrecadação atenua um pouco a situação fiscal, ainda que não seja sustentável, porque custear um Estado de maneira crescente não se sustenta no longo prazo”, avalia Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. De qualquer forma, diz Sanchez, diante das dificuldades do Executivo para fechar o orçamento em 2026, que precisa de R$ 30 bilhões, o aval do Senado ao projeto foi visto com bons olhos pelo mercado. “Entre não custear e custear com arrecadação, é menos pior custear”.
Já Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, avalia que a pauta legislativa não teve efeito relevante sobre o fechamento da curva nesta terça. Em sua visão, notícias do âmbito fiscal têm feito pouco preço nos ativos no segundo semestre. “Aparentemente, o mercado já assimilou que um ajuste amplo não será realizado no ano corrente, tampouco no próximo”, disse. De acordo com Shahini, os gatilhos para os negócios na sessão desta terça, marcada por leve fechamento da curva, foram a desvalorização do dólar, que terminou o pregão com 0,54% de recuo ante o real, e o resultado da produção industrial de outubro.
Publicada na abertura pelo IBGE, a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) mostrou que a produção subiu apenas 0,1% ante setembro, feitos os ajustes sazonais. A mediana do Projeções Broadcast indicava alta de 0,3% para o dado, que sinalizou um comportamento frágil da atividade econômica no início do quarto trimestre. O Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre será conhecido nesta quinta-feira, e deve ter expansão perto de zero.
Ao já incorporar a mais recente leitura da indústria, a estimativa em tempo real (tracking) da XP Investimentos indica alta de 0,2% para o PIB nos três meses finais do ano. Para o economista da XP Rodolfo Margato, os números reforçam a percepção de que o setor industrial deve ficar virtualmente estável no curto prazo. Margato menciona que segmentos ligados à produção mais sensíveis à renda têm registrado desempenho mais positivo do que os sensíveis ao crédito, em linha com o cenário de juros restritivos.
Para Sanchez, o fluxo de notícias e dados do dia foi favorável à dinâmica dos DIs, com destaque para a produção industrial. “Temos visto uma perspectiva mais intensificada para o ciclo baixista de juros, ainda que o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo tenha sido mais duro nos comentários recentes.”


