‘O cinema brasileiro é muito presente na memória dos cinéfilos’, diz Isabelle Huppert no Brasil

Convidada de honra do Festival de Cinema Francês do Brasil 2025 (antigo Festival Varilux), que começou nesta quinta-feira, 27, a atriz Isabelle Huppert se revelou uma grande admiradora do cinema brasileiro. Perguntada sobre filmes recentes de grande sucesso, como Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, e O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, ela contou que ainda não viu o segundo, mas, sobre o longa de Salles, comentou: “É um filme incrível, com uma atriz genial”.

Sobre os dois diretores, ela afirmou: “São duas figuras muito importantes na França, muito queridos, grandes experiências cinéfilas”. Espontaneamente, Isabelle citou o nome do também diretor brasileiro Karim Aïnouz, ganhador do prêmio Un Certain Regard (mostra paralela à seleção oficial do Festival de Cannes) em 2019, com o filme A Vida Invisível. “Eles são imensos.”

“Ele (Karim) foi uma descoberta incrível para o público francês depois de Un Certain Regard”, lembrou a atriz. “Encontrei com ele várias vezes; foi um filme (A Vida Invisível) que nos encantou muito, que não se parecia com nada que tínhamos visto antes.”

Isabelle também citou expoentes mais antigos do cinema nacional, como Glauber Rocha e Bruno Barreto. “É uma cinematografia muito presente na memória dos cinéfilos”, disse sobre os filmes brasileiros. “E certamente há muitos outros que não conhecemos e que eu teria enorme prazer em descobrir.” E arrematou: “Adoraria fazer um filme com um cineasta brasileiro, seria coerente com a minha filmografia”.

Isabelle Huppert é, hoje, uma das maiores atrizes do cinema francês e mundial, com 193 filmes e 19 prêmios (entre eles três de melhor atriz em Cannes e um de melhor atriz no Globo de Ouro, além de uma indicação ao Oscar). Na lista elaborada pelo jornal The New York Times sobre os 25 melhores atores do século 21, ela aparece em segundo lugar, atrás apenas de Denzel Washington.

A Mulher Mais Rica do Mundo

Ela é a atriz principal do filme A Mulher Mais Rica do Mundo, de Thierry Klifa, um dos destaques do Festival de Cinema Francês deste ano. O filme é livremente inspirado na história de Françoise Bettencourt-Meyers, herdeira do império L’Oreal.

Sobre a construção de mais uma personagem icônica em sua carreira, a atriz afirmou: “O diretor não fez um filme com os nomes reais, e isso nos dá muito mais liberdade para compor nossos personagens; a proposta do filme é a interpretação de uma história”. Ela lembrou ainda que, sobre os fatos reais, há um documentário na Netflix.

“A personagem se apresentou de maneira muito evidente para mim por meio dos diálogos; ela vive em uma casa grande, burguesa, com várias pessoas que a cercam, como uma pequena corte, pessoas que não falam muito umas com as outras. Isso ditou um certo comportamento, uma certa atitude corporal. Seria muito diferente, por exemplo, se fosse uma milionária vivendo numa ilha deserta.”

Ao conhecer um fotógrafo (Laurent Lafitte), a personagem de Huppert acaba tendo acesso a um mundo que desconhecia, por conta de sua posição social privilegiada.

“Ela encontra esse fotógrafo, um personagem fora do comum, brilhante, divertido, inteligente, iconoclasta, insolente, vulgar. O filme traz a emancipação pelo riso, mas é uma história que se torna trágica no fim das contas, porque ela paga um preço ainda mais elevado do que pagou em dinheiro ao ter que renunciar a essa pessoa que iluminava sua vida.”

Nesse processo de criação, diz Isabelle, na escolha de um novo projeto, a relação com o diretor é mais importante do que o personagem em si. “Não penso muito em termos de personagens. Não é isso que me inspira. O que conta é o encontro com os diretores.”

Sobre o que ainda fez, ela diz? “Talvez gostasse de fazer uma piloto de avião… Eu viajo muito, às vezes vejo aviões pilotados por mulheres, são vidas tão distantes da minha. Talvez fosse interessante aprender a pilotar avião.”

A inspiração para as personagens vem única e exclusivamente de sua imaginação. “Nada me inspira”, disse. “Gosto de assistir a filmes, de ler, de observar, sou uma ótima espectadora, mas isso não tem nada a ver com a minha vida de atriz. Para mim, é só a imaginação. A imaginação comigo mesma, nada a partir dos outros. Talvez isso mantenha vivas as pessoas enclausuradas: a força da imaginação.”

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Por Redação Folha de Guarulhos.

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