O dólar encerrou a sessão desta terça-feira, 25, em baixa moderada, na casa de R$ 5,37, acompanhando a onda de desvalorização da moeda americana no exterior. Investidores reforçaram as apostas em corte de juros pelo Federal Reserve em dezembro após a divulgação de dados de inflação e atividade nos EUA que ficaram represados durante a paralisação (shutdown) da máquina pública.
O real, que costuma apresentar desempenho superior ao da maioria das divisas emergentes em dias de apetite ao risco, exibiu ganhos bem mais modestos que pares latino-americanos, como os pesos mexicano e chileno. Operadores pontuam que a cautela fiscal limitou o fôlego da moeda brasileira. Houve receio com a apreciação pelo Senado do projeto de lei que regulamenta a aposentadoria especial dos agentes comunitários de saúde, apelidado de pauta-bomba pelo impacto fiscal bilionário. O PL foi aprovado após o fechamento do mercado de câmbio.
Após mínima a R$ 5,3576 por volta das 10h30, o dólar chegou a tocar pontualmente terreno positivo entre o fim da manhã e o início da tarde, quando superou o nível de R$ 5,40 e registrou máxima a R$ 5,4130. O aprofundamento das perdas da moeda americana no exterior ao longo da segunda etapa de negócios voltou a jogar a divisa para baixo no mercado local.
O dólar à vista terminou o dia em queda de 0,34%, a R$ 5,3767. Foi o segundo pregão consecutivo de recuo da divisa, em aparente correção dos excessos da última sexta-feira, quando avançou 1,18% e fechou acima de R$ 5,40, no maior nível desde 17 de outubro. Com as perdas de hoje, a moeda volta a mostrar baixa em outubro (-0,07%). No ano, a desvalorização é de 13%%.
O gerente da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, ressalta que a apreciação do projeto de lei dos agentes comunitários pelo Senado parece uma resposta do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, ao Supremo Tribunal Federal. Alcolumbre trabalhava pelo nome do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
“O dólar cai aqui apenas porque o ambiente lá fora é favorável a moedas emergentes. O quadro fiscal ainda é muito frágil e essa disputa entre governo e Senado aumenta a percepção de risco”, afirma Galhardo.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas forte, o índice DXY furou o piso dos 100,000 pontos e rondava 99,688 pontos no fim da tarde, em queda de cerca de 0,45%, após mínima aos 99,654. O índice de preços ao Produtor (PPI, na sigla em inglês) de setembro veio em linha com as expectativas. Do lado da atividade, as vendas no varejo dos EUA subiram 0,2%, aquém das estimativas (0,3%).
“Os dados da economia americana que estão saindo após o fim do shutdown, corroboram a visão de que o Fed deve reduzir os juros em dezembro. Isso favorece o enfraquecimento do dólar no mundo e tem reflexos aqui”, afirma a economista da Coface para América Latina, Patricia Krause.
Indicado pelo presidente Donald Trump ao Fed, o diretor Stephen Miran disse que a conjuntura “pede cortes nas taxas de juros”, argumentando que a taxa de desemprego avança porque a “política monetária está muito restritiva”. À tarde, notícia da Bloomberg afirmou que o diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Kevin Hassett, é visto como favorito para substituir Jerome Powell no comando do Federal Reserve.
Entre indicadores locais, destaque para os resultados das contas externas em outubro. O déficit em transações correntes foi de US$ 5,1 bilhões, acima da mediana de Projeções Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado (US$ 4,4 bilhões), mas o menor para os meses de outubro desde 2022. A surpresa positiva veio com os investimentos diretos no país (IDP), que somaram US$ 10,9 bilhões em outubro, acima do pico de Projeções Broadcast (US$ 8 bilhões). Pela primeira vez desde janeiro, o IDP acumulado em doze meses supera o déficit em transações correntes
O economista Sergio Goldenstein, sócio-fundador da Eytse Estratégia, observa que as transações correntes seguem pressionadas “pela perda de dinamismo da balança comercial, apesar de alguma melhora na margem”. Ele pondera que o financiamento externo “permanece confortável”, com o IDP e as entradas em carteira.
Goldenstein destaca ingressos de US$ 2,5 bilhões em títulos de renda fixa em dezembro. No acumulado do ano, superam US$ 16 bilhões. “As entradas em renda fixa refletem principalmente o interesse do investidor estrangeiro no diferencial de juros (carry trade)”, afirma o economista, em nota.
Bolsa
O Ibovespa obteve um segundo dia de alta discreta na casa dos 155 mil pontos, mas tendendo aos 156 mil no fechamento, como na segunda-feira, 24, em ajuste mais suave do que o observado nos principais índices de Nova York. Ao fim, a referência da B3 mostrava ganho de 0,41%, aos 155.910,18 pontos, entre mínima de 154.821,35 e máxima de 156.373,21 pontos, tendo saído de abertura aos 155.278,10 pontos. O giro financeiro ficou, nesta terça-feira, 25, em R$ 20,3 bilhões. Na semana, em duas sessões, o Ibovespa avança 0,74% e, no mês, 4,26%, colocando o ganho acumulado no ano a 29,62%.
Em dia de queda ao redor de 1,5% para o Brent e o WTI em Londres e Nova York, as ações de Petrobras (ON -0,96%, PN -0,80%) destoaram do sinal positivo observado em blue chips como Vale (ON +0,78%) e bancos, com destaque para Santander (Unit +1,51%, na máxima do dia no fechamento). Na ponta ganhadora do Ibovespa, Usiminas (+6,43%), C&A (+3,64%) e Magazine Luiza (+3,64% também). No lado oposto, Braskem (-3,72%), MBRF (-3,27%) e Prio (-2,65%).
“Ainda há alguma propensão a risco pela expectativa de corte de juros nos Estados Unidos em dezembro, que enfraquece adicionalmente o dólar”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. “Dia relativamente positivo, de recuperação, sem grandes notícias no radar, com o setor siderúrgico mostrando bom desempenho na sessão. O petróleo, por sua vez, foi afetado pela expectativa de aumento da oferta global da commodity, ante a possibilidade de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia”, aponta Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
Para Nicolas Gass, estrategista de investimentos e sócio da GT Capital, a novidade que surpreendeu os mercados, na sessão, foi o avanço “significativo” nas negociações por um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. Para além do ajuste nas cotações da commodity que afeta o setor de energia, o dia foi em geral positivo para as ações cíclicas, com exposição a juros, como as dos setores de consumo, varejo, educação e construção civil, acrescenta Gass.
Um funcionário dos Estados Unidos disse que uma delegação ucraniana concordou com os termos de um possível acordo de paz com Washington, segundo a ABC News. E a secretária de Imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que houve progresso considerável rumo a uma resolução, mas que existem alguns “detalhes delicados” que ainda precisam ser resolvidos.
Mesmo em meio aos esforços de paz norte-americanos, a Rússia lançou uma série de ataques contra a capital ucraniana neste madrugada, atingindo prédios residenciais e infraestrutura energética, reporta a jornalista Thais Porsch, da Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, com informações da Dow Jones Newswires.
No front doméstico, prevalece certa cautela quanto à possibilidade de aprovação de pauta-bomba no Senado com implicações para as contas públicas, em meio à disputa entre o presidente da Casa, Davi Alcolumbre, e o Palácio do Planalto quanto à indicação, pelo presidente Lula, do advogado-geral da União, Jorge Messias, para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) com a aposentadoria de Luís Roberto Barroso. Embora a indicação seja privativa do presidente da República, Alcolumbre tinha nome próprio para a vaga: o do senador e aliado Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Juros
Sob uma confluência benigna de fatores domésticos e exteriores, os juros futuros negociados na B3 acentuaram o ritmo de queda na segunda etapa do pregão desta terça-feira, 25, renovando mínimas intradia na parte final da sessão.
O movimento consolidado do dia, para agentes, teve como maior indutor fala considerada mais explícita do diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, de que o próximo passo é um ajuste para baixo na Selic. Já a partir das 17h, quando as taxas voltaram a tocar mínimas, investidores avaliam que a curva refletiu apostas mais favoráveis para o IPCA-15 de novembro, que será publicado na quarta pelo IBGE. “Desde segunda há uma preparação para o IPCA-15”, disse um economista de uma grande tesouraria à Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 caiu de 13,552% no ajuste de segunda-feira para 13,505%. O DI para janeiro de 2029 diminuiu de 12,799% no ajuste anterior para 12,735%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,085%, vindo de 13,13% no ajuste.
Ao participar de evento do Eurofinance, o diretor de política monetária do BC retirou de cena a possibilidade de um novo aumento na Selic, que, de acordo com ele, não faz mais parte do cenário-base da autarquia. “A questão agora é entender quando será o processo de corte de juros”, comentou. A afirmação, ainda que sem grandes novidades, foi vista como relevante pelo mercado, que discute janeiro ou março como ponto de início para o ciclo de afrouxamento.
Já o presidente do BC, Gabriel Galípolo, adotou tom mais moderado, ao apontar que a inflação está perdendo ímpeto, mas ainda em ritmo mais lento do que o desejado. Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Galípolo reforçou o compromisso da autoridade monetária com o do centro da meta inflacionária, de 3%.
Levando em conta as comunicações recentes do BC e o quadro de inflação e atividade, o Comitê de Política Monetária (Copom) poderia começar o ciclo de cortes tanto em janeiro quanto em março, motivo pelo qual o mercado está dividido sobre essas duas reuniões, destaca Gean Lima, gestor de portfólio da Connex Capital.
“Tem duas opções: o Copom pode sinalizar em dezembro que inicia o ciclo em janeiro, ou a segunda, que para nós é mais provável”, defende o gestor: incluir elementos mais ‘dovish’ no comunicado do encontro de dezembro, para apenas no mês seguinte indicar que vai cortar a Selic em março. “Esse é o cenário com que trabalhamos, e hoje praticamente quase todo o movimento dos DIs foi em cima dessa discussão”, apontou.
Lá fora, indicadores conhecidos endossaram as perspectivas de que o Federal Reserve (Fed) vai reduzir o juro em dezembro, o que comprimiu os rendimentos dos Treasuries. Por volta das 18h, o retorno da T-Note de 2 anos recuava a 3,460%. O título de 10 anos cedia a 4,002%, e o de 30 anos, a 4,659%.
Segundo estimativa preliminar da ADP, a economia americana eliminou, em média, 13,5 mil vagas no setor privado por semana no mês terminado em 8 de novembro. Do lado da inflação, o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) subiu 0,3% em setembro ante agosto e 2,7% na comparação anual. O dado mensal veio em linha com as estimativas da FactSet, e o anual, ligeiramente acima (2,6%).
“Os números desta terça, principalmente os do mercado de trabalho, reforçaram um movimento de fechamento da curva de juros dos EUA em praticamente todos os vértices”, afirma Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad. O mercado, observa ele, já trabalha com cerca de 82% de chance de redução dos Fed Funds em dezembro.
Por aqui, Shahini avalia que os DIs responderam de “forma tímida” à movimentação dos EUA. “O impacto imediato dos números de hoje [terça-feira] vem sendo sentido mais intensamente no dólar, que operou abaixo de R$ 5,40 durante todo o dia. O mercado local de juros tem reagido mais ao noticiário interno para movimentos mais amplos”, avaliou. Assim, as atenções se concentram no IPCA-15 de novembro, que será conhecido nesta quarta, nota o especialista.


