Dólar tem leve queda apesar de aversão ao risco no exterior

Após trocas de sinal pela manhã e no início da tarde destaterça-feira, 18, o dólar se firmou em leve baixa nas últimas horas da sessão, com menor aversão ao risco no exterior e virada do petróleo para o campo positivo. Divisas emergentes pares do real também se apreciaram ao longo da segunda etapa de negócios, com destaque para o peso colombiano.

Com máxima de 5,3457 e mínima de R$ 5,3156, na reta final do pregão, o dólar à vista fechou em queda de 0,25%, a R$ 5,3176. A moeda americana acumula desvalorização de 1,17% em novembro, após ter avançado 1,08% em outubro. No ano, o dólar apresenta baixa de 13,96% em relação ao real, que tem o segundo melhor desempenho entre divisas latino-americanas, atrás do peso colombiano.

Operadores ressaltam que o dólar se mantém acima da linha de R$ 5,30 em razão do ambiente de cautela no exterior, com investidores à espera de dados represados da economia americana, em especial o relatório de emprego (payroll) de setembro na quinta-feira, 20. Temores de uma correção aguda nos preços das ações de big techs, na véspera da divulgação dos resultados da Nvidia, estrela do setor de Inteligência Artificial (IA), também inibem o apetite ao risco.

O head da mesa de câmbio e internacional da Mirae Asset Brasil, Jonathan Joo Lee, observa que, apesar do estresse doméstico provocado pela liquidação do Banco Master, o mercado de câmbio local operou alinhado ao ambiente externo, com investidores ponderando as chances de o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) cortar os juros em dezembro.

“A crescente preocupação com uma possível bolha no setor de inteligência artificial ampliou a volatilidade das bolsas americanas e elevou a aversão ao risco, o que se refletiu em picos de alta do dólar entre 11h45 e 13h, interrompendo momentaneamente a tendência de valorização da moeda brasileira”, observa Joo Lee, que destaca a leitura do relatório ADP semanal sinalizando arrefecimento do mercado de trabalho nos EUA.

Dados da ADP mostraram que os EUA perderam uma média de 14.250 posições no setor privado nas quatro semanas encerradas em 1º de novembro. A ADP começou recentemente a emitir estimativas de média móvel nas mudanças no emprego nos EUA. Elas são publicadas com um atraso de duas semanas.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, o índice DXY também trocou de sinal ao longo do dia e, no fim da tarde, operava próximo à estabilidade, ao redor dos 99,555 pontos. Entre divisas emergentes, destaque para o peso colombiano, com ganhos de quase 1%. Já o peso chileno recuou, devolvendo o avanço de segunda-feira, 17, na esteira do resultado do primeiro turno da eleição presidencial do Chile no domingo.

No início da tarde, o presidente do Fed de Richmond, Tom Barkin, afirmou que vê pressão em ambos os lados do mandato do BC americano, com a inflação acima da meta de 2% e a desaceleração do mercado de trabalho. Barkin disse que aguarda “ansiosamente” a divulgação de indicadores represados, dado que o Fed ainda tem “muito a aprender” até a reunião de política monetária de dezembro.

Nesta quarta, o Fed divulga a ata do encontro de outubro, quando a taxa básica de juros foi reduzida em 25 pontos-base. Na ocasião, o presidente do BC americano, Jerome Powell, alertou que uma redução dos juros em dezembro não está garantida. De lá para cá, dirigentes do Fed exprimiram opiniões divergentes, com parte advogando pela interrupção do processo de alívio monetário.

O diretor global e de derivativos listados da Hedgepoint, Guilherme Marques, observa que na semana passada as chances de pausa no processo de corte de juros em dezembro tornou-se ligeiramente majoritária.

“Tivemos o shutdown mais longo da história dos Estados Unidos, com 43 dias de paralisação. O Fed vai começar apenas agora a ter dados represados de emprego e preços. A tendência é que tenha uma postura mais cautelosa”, afirma Marques, para quem uma nova redução dos juros poderia trazer pressões inflacionárias, em ambiente marcado pelas incertezas provocadas pela política tarifária de Trump.

Bolsa

O Ibovespa teve mais um dia de pausa, esboçando em boa parte da sessão tendência a uma moderada realização de lucros após a recente série de recordes, mas conservando a linha dos 156 mil pontos, em leve baixa de 0,30% no fechamento. Nesta terça-feira, 18, o índice oscilou entre 155.833,67 e 157.039,89 pontos na máxima (+0,03%) à tarde, após abertura aos 156.990,43 pontos, que permanecia como o pico do dia até o meio da etapa vespertina. Ao fim, o Ibovespa marcava 156.522,13 pontos, com giro financeiro a R$ 24,0 bilhões. Na semana, cede 0,95% e, no mês, acumula ganho de 4,67%. No ano, sobe 30,13%.

Entre as principais ações, apenas as de Petrobras (ON sem variação no fechamento; PN +0,33%) conseguiam evitar o sinal negativo, amparadas pela recuperação nas cotações do petróleo, em alta na casa de 1% em Londres e Nova York na sessão – mas ambas as ações perderam sustentação no ajuste final. Principal papel do Ibovespa, Vale ON caiu 0,31% e, entre os maiores bancos, as perdas nesta terça ficaram entre 0,21% (Santander Unit) e 2,76% (Banco do Brasil ON, na mínima do dia no encerramento). Na ponta ganhadora do Ibovespa, Cogna (+9,94%), CVC (+4,81%) e Auren (+4,60%). No lado oposto, MBRF (-8,05%), Hapvida (-5,56%) e BB (-2,76%).

“Há expectativa para um balanço mais fraco da Nvidia, amanhã [quarta] a empresa é referência do setor de IA, nos Estados Unidos. E, na quinta-feira, o mercado aqui estará fechado no feriado da Consciência Negra e haverá dados relevantes lá fora como o payroll de setembro, nos EUA. O mercado segue em compasso de espera, sem que os investidores tomem posição, o que ajuda a entender por que o Ibovespa operou perto do zero a zero em boa parte da sessão”, diz Gabriel Mollo, analista da Daycoval Corretora.

Pesquisa do BTG Pactual mostra que os investidores estão menos confortáveis com o valuation do Ibovespa após o rali recente, que o conduziu a novas máximas históricas – no intradia, chegou à faixa de 158 mil pontos na semana passada, um nível não muito distante do que se mantém nesta terça. Dessa forma, os investidores buscam reduzir riscos até o fim de 2025, com a maior parte (37%) dos gestores de portfólio ouvidos – principalmente baseados no Brasil – tendo agora um sentimento neutro para a Bolsa. Para 42%, os valuations das ações estão cada vez mais justos.

“Com os mercados subindo dia após dia nas últimas duas semanas, notamos alguma hesitação no ar após o recente rali. De forma alguma os investidores estão pessimistas ou buscando reduzir materialmente o risco, mas mais gestores de portfólio relatam que o sentimento agora é neutro”, afirma o banco, em relatório que não menciona a quantidade de entrevistados, reporta a jornalista Caroline Aragaki, da Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Lá fora, a pesquisa Global Fund Manager Survey (FMS, na sigla em inglês) de novembro do Bank of America (BofA) mostra intensificação das preocupações com os excessos ligados à inteligência artificial (IA) e à forte concentração em grandes empresas de tecnologia. Segundo o levantamento, 45% dos gestores apontam uma “bolha de IA” como o principal risco de cauda, avanço relevante em relação aos 33% de outubro. Além disso, 53% afirmam que as ações ligadas à IA “já estão em uma bolha”, mantendo o indicador acima de 50% pelo segundo mês seguido, reporta o jornalista Pedro Lima, da Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Nesse contexto, os principais índices de ações em Nova York fecharam hoje em baixa de 1,07% (Dow Jones), S&P 500 (-0,83%) e Nasdaq (-1,21%), dando prosseguimento à correção.

“A bolsa brasileira caiu muito mais por fatores globais do que por fatores domésticos. Há um movimento global de aversão ao risco, com investidores lá fora receosos quanto aos valuations das empresas de tecnologia, e com grandes expectativas em relação aos resultados de Nvidia, que saem amanhã, tendo como panorama de fundo macro as incertezas quanto à próxima reunião do Federal Reserve se manterá ou não o ciclo de cortes de juros, iniciado em setembro e a que deu curso também na reunião do final de outubro”, observa Bruno Perri, economista-chefe, estrategista e sócio-fundador da Forum Investimentos.

Segundo ele, a liquidação do banco Master, anunciada nesta manhã, também contribuiu, ainda que em “segundo plano”, para o viés de baixa do Ibovespa na sessão, em especial pelo efeito defensivo sobre o setor bancário, que caiu no pregão – um segmento “fundamentalmente afetado pela liquidação do Master e pelo enorme custo que este trará aos cofres do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), que terá de ser capitalizado pelo sistema financeiro, com peso maior sobre os ombros dos grandes bancos”, acrescenta Perri.

O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) estima em 1,6 milhão o número de credores com depósitos e investimentos elegíveis ao pagamento da garantia no âmbito da liquidação do Master. O montante equivale a um valor aproximado de R$ 41 bilhões, reportam os jornalistas André Marinho e Mateus Fagundes, da Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Em comunicado, o FGC informou que tinha patrimônio de R$ 160 bilhões em setembro, dos quais R$ 122 bilhões correspondiam a recursos líquidos em caixa. As instituições liquidadas são o Banco Master, Banco Master de Investimento, Banco Letsbank e Master Corretora de Câmbio.

Juros

Após a forte abertura observada na segunda-feira, 17, na esteira da piora nos mercados externos de renda fixa, os juros futuros negociados na B3 operaram de lado, rondando os ajustes anteriores em boa parte do pregão desta terça-feira, 18. Sem gatilhos locais para conduzir os negócios, as oscilações das taxas foram contidas, e passaram de viés de queda para de alta na etapa final da sessão.

Segundo agentes, em um dia de liquidez reduzida com a proximidade do Feriado da Consciência Negra, nesta quinta-feira, a dinâmica comportada dos DIs seguiu o movimento do dólar, que caiu na sessão, assim como o alívio na curva dos Treasuries. No ambiente doméstico, mesmo sem novas informações, a leitura é que o quadro de descompressão da inflação e da atividade é propício ao aguardado ciclo de afrouxamento monetário.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 oscilou de 13,646% no ajuste de segunda para 13,650%. O DI para janeiro de 2029 passou de 12,909% no ajuste anterior para 12,925%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,270%, de 13,247% no ajuste antecedente.

“Desde a semana anterior, que combinou a divulgação da ata do Copom e do IPCA de outubro, os DIs têm se movimentado pouco, e nesta terça foi mais um pregão com essa característica”, disse André Muller, economista-chefe da AZ Quest Investimentos. “Tanto aqui quanto lá fora, não há muitos elementos que justifiquem uma grande movimentação”, completou.

Para Muller, a dinâmica benigna dos dados inflacionários mais recentes, assim como o enfraquecimento mais visível da atividade, tem gerado convicção de que o ciclo de redução da Selic está próximo. No cenário da gestora, o Comitê de Política Monetária (Copom) vai dar início aos cortes em janeiro, com um ajuste de 50 pontos-base. “O mercado já tem mais segurança sobre a ocorrência disso do que há duas semanas”.

Em revisão divulgada nesta terça, o banco Daycoval reduziu sua estimativa para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2025, de 4,8% para 4,5%. O número está alinhado ao teto da meta de inflação perseguida pelo Banco Central, que permite flutuação de 1,5 ponto porcentual em relação ao centro, de 3%.

De acordo com economistas do banco, as maiores surpresas favoráveis com a dinâmica dos preços em outubro vieram da parte de serviços e, também, da redução das cotações da gasolina pela Petrobras. “Soma-se a isto a continuidade do comportamento benigno dos preços dos alimentos e dos bens industriais”, diz a instituição em relatório.

A AZ Quest também ajustou recentemente sua projeção para o indicador oficial de inflação este ano, de 4,6% para 4,5%. “É uma mudança marginal, mas tem um caráter simbólico, de que há maior chance de que a inflação termine o ano dentro do intervalo do regime de metas”, disse o economista-chefe da gestora.

Segundo Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, a estabilidade dos juros futuros nesta terça refletiu uma revisão mais consistente, para baixo, das expectativas de mercado do IPCA para o fim do ano, agora em 4,46% no boletim Focus. Em conjunto com dados de atividade que sinalizam perda de fôlego da economia, é reforçada a percepção de que o BC pode antecipar o ciclo de cortes, avalia Shahini, ou ao menos ajustar o ‘guidance’ para indicar maior flexibilização à frente.

Lá fora, os dados semanais do ADP mostraram que o mercado de trabalho americano pode estar mais fraco do que os números sugerem, acrescenta o especialista, contribuindo para a queda dos retornos dos Treasuries na sessão. “A combinação desse alívio nos juros americanos com o fortalecimento do real adicionou pressão baixista adicional à curva de DIs”, apontou. Publicado nesta terça, o relatório de empregos mostrou que os EUA eliminaram, em média, 14.250 postos no setor privado no mês terminado em 1º de novembro.

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Por Redação Folha de Guarulhos.

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