Ibovespa estende série de recordes, aos 155 mil, em alta de 0,77% na sessão

Nesta segunda-feira, 10, na mesma direção de ganhos de até 2,27% em Nova York (Nasdaq), que vinha sofrendo a pressão em torno da suspeita de bolha no setor de tecnologia – em especial na IA -, o Ibovespa seguiu a marcha das máximas históricas, obtendo o 11º fechamento em nível recorde consecutivo, agora aos 155 mil pontos. Foi também o 14º avanço seguido para o índice da B3, perto de igualar a marca de 15 altas em série observada há mais de 31 anos, entre maio e junho de 1994, durante a implementação do Plano Real.

A expectativa de que se esteja perto de uma solução para o shutdown – como é conhecida a suspensão temporária e parcial de atividades do governo federal dos EUA em razão da falta de aprovação do orçamento, o que envolve inclusive a suspensão do pagamento de servidores públicos – deu apoio ao apetite por risco desde o exterior nesta segunda, com reflexos positivos por aqui.

“A falta de dados econômicos importantes como os referentes a preços e ao mercado de trabalho nos Estados Unidos tem implicações para a tomada de decisões do Federal Reserve sobre juros – e o mercado temia que na próxima reunião do Fed em dezembro pudesse não haver condições para novo corte de juros”, diante do ‘apagão’ na disponibilidade de dados econômicos oficiais, observa Andressa Bergamo, especialista em investimentos e fundadora da AVG Capital.

Na sessão da B3, o Ibovespa oscilou de 154.058,43 a 155.601,15 pontos, também em novo recorde intradia, saindo de abertura aos 154.061,18 pontos. Ao fim, marcava 155.257,31 pontos, em alta de 0,77%, com giro a R$ 22,1 bilhões. No mês, sobe 3,82%, colocando o ganho do ano a 29,08%, mais perto da marca de 31,58% de 2019.

Marco Noernberg, sócio e estrategista de renda variável da Manchester Investimentos, destaca que, no agregado de um mês corrido, a valorização do Ibovespa já supera 10%, considerando o fechamento desta segunda. E a agenda da semana, com pontos importantes, pode trazer novos catalisadores – ou, no lado oposto, favorecer realização de lucros após uma longa série vitoriosa para o índice da B3.

“Atenção para a ata do Copom amanhã cedo, que pode dar pistas sobre o futuro da Selic, e para a inflação oficial de outubro, que também será conhecida nesta terça-feira, 11. Tanto a ata quanto o IPCA podem trazer novas perspectivas para o início da política de corte de juros”, acrescenta Noernberg.

“Se o IPCA de outubro trouxer uma surpresa novamente baixista, pode ser que a gente veja novas revisões para baixo da inflação no Boletim Focus, o que voltaria a pressionar o Copom a se mexer e trazer, talvez de março para janeiro, a expectativa por queda de juros atualmente precificada pelo mercado”, aponta Felipe Cima, analista da Manchester.

Na B3, a abertura de semana contou com bom desempenho de carros-chefes, como Vale (ON +0,66%) e Petrobras (ON +0,88%, PN +0,56%). Entre as maiores instituições financeiras, exceção apenas para Banco do Brasil, com a ON em baixa de 0,48% no fechamento – destaque para Bradesco (ON +1,56%, PN +1,87%). Na ponta ganhadora do Ibovespa, Lojas Renner (+3,94%), Raízen (+3,57%) e Magazine Luiza (+3,44%). No campo contrário, Azzas (-2,05%), Suzano (-1,93%) e Usiminas (-1,82%).

Dólar

O dólar emendou nesta abertura da semana o quarto pregão consecutivo de queda e flertou com o rompimento do piso de R$ 5,30. Divisas emergentes avançaram com o apetite ao risco no exterior diante da perspectiva de fim da paralisação (shutdown) da máquina pública nos Estados Unidos, após entendimento político no Senado americano.

O real apresentou nesta segunda-feira, 10, ganhos inferiores a pares como os pesos chileno e colombiano, além do rand sul-africano. Operadores lembram que há certa cautela quando a taxa de câmbio se aproxima de R$ 5,30, nível técnico que, se rompido, poderia abrir espaço para uma rodada ainda mais forte de apreciação da moeda brasileira.

Com mínima de R$ 5,3043, o dólar à vista encerrou a sessão desta segunda, em baixa de 0,53%, a R$ 5,3073 – menor valor de fechamento desde 23 de setembro (R$ 5,2791). A moeda americana já acumula baixa de 1,36% em relação ao real nos primeiros seis primeiros pregões de novembro, após avanço de 1,08% em outubro. No ano, as perdas são de 14,12%.

“A possibilidade do fim do shutdown nos Estados Unidos animou o mercado e estimulou o apetite ao risco, provocando essa busca dos investidores por moedas emergentes”, afirma o economista-chefe da Análise Econômica, André Galhardo.

O economista observa que o Boletim Focus, embora tenha revelado apenas mudanças marginais nas expectativas, ratifica o quadro de desinflação, o que se traduz em aumento do juro real. “Isso tem trazido muito capital para o Brasil. Além disso, temos um bom comportamento de algumas commodities, o que é positivo para a nossa moeda”, diz Galhardo.

No exterior, o índice DXY – que mede o comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – rondou a estabilidade ao longo do dia, por volta dos 99,580 pontos. Em outubro, o Dollar Index recua pouco mais de 0,10%. As taxas dos Treasuries apresentaram leve alta.

Com eventual fim do shutdown, que depende ainda de entendimento na Câmara dos Representantes dos EUA, haverá a retomada de divulgação de vários indicadores oficiais dos EUA, em especial do mercado de trabalho, dando mais subsídios para as apostas em torno dos próximos passos do Federal Reserve.

À tarde, o diretor do Federal Reserve Stephen Miran, indicado por Donald Trump, voltou a defender um corte de 50 pontos-base dos juros em dezembro, mas ponderou que, se não for este o caso, é necessário uma redução mínima de 25 pontos-base. Pela manhã, a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, disse que não quer “cometer o erro de manter taxas de juros altas por muito tempo”, ressaltando, contudo, que a política monetária deve seguir restritiva para domar a inflação.

Embora o quadro externo guie os negócios, Galhardo afirma que a aprovação da reforma do Imposto de Renda no Senado brasileiro no fim da semana passada, com isenção para quem recebe até R$ 5 mil por mês, tende a evitar um desaquecimento mais expressivo da economia em 2026, afastando temores de perdas mais fortes da arrecadação. “Isso reduz as preocupações de curto prazo com as contas públicas, o que diminui a percepção de risco e favorece ativos domésticos”, afirma o economista.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a tramitação do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026 está “bem encaminhada”, depois de o Congresso ter ajustado a LDO de 2025 para autorizar o Executivo a contingenciar gastos pelo piso da meta fiscal. “Vamos fechar a LDO da maneira como a Fazenda e o Planejamento pretendem, e isso vai dar muita previsibilidade para a execução orçamentária no ano que vem”, disse Haddad, em entrevista à CNN Brasil.

Fontes da equipe econômica avaliam que o Brasil voltou a abocanhar uma fatia da enorme liquidez no mercado internacional que busca investimentos em mercados emergentes, segundo apurou o repórter da Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, Altamiro Silva Junior. Esse apetite pelos ativos locais estaria evidenciado pelos recordes seguidos do Ibovespa, que já ultrapassou os 155 mil pontos, o recuo na percepção de risco, medida pelo Credit Default Swap (CDS) de cinco anos, e captação de US$ 2,25 bilhões com a emissão de títulos sustentáveis feita pelo Tesouro na semana passada.

Juros

Tendo como pano de fundo o ambiente externo mais propício à tomada de risco com as indicações de que o shutdown mais longo da história do governo americano vai terminar, os juros futuros negociados na B3 se mantiveram em queda firme no pregão desta segunda-feira, 10, especialmente no miolo da curva.

Segundo agentes, a tendência de declínio observada desde a abertura, que, então, seguiu o dólar, pode ter sido reforçada pela expectativa de um resultado mais benigno para a inflação de outubro, assim como de possíveis sinais menos duros na comunicação do (BC). O Comitê de Política Monetária (Copom) divulga a ata de sua última reunião nesta terça-feira, 11, mesmo dia em que o IBGE publica o IPCA referente ao mês passado.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 recuou de 13,874% no ajuste de sexta-feira para 13,825%. O DI para janeiro de 2029 cedeu de 13,068% no ajuste anterior a 12,955%. Foi a primeira vez que esse vértice ficou abaixo de 13%, considerando níveis de fechamento, em um ano – em 11 de novembro de 2024, terminou o pregão em 12,975%. Na ponta mais longa da curva, o DI para janeiro de 2031 marcou mínima intradiária de 13,250%, vindo de 13,375% no ajuste antecedente.

“Todo o movimento dos mercados foi muito pró-Brasil. Parece que é fluxo de fora que está contribuindo com a queda dos DIs”, disse Laís Costa, analista de renda fixa da Empiricus Research, mencionando o otimismo trazido pela perspectiva de fim da paralisação da administração federal dos Estados Unidos.

Depois de o Senado americano ter aprovado no domingo, 09, uma lei que financia o governo de forma provisória até o fim de janeiro, o presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Mike Johnson, disse que deve ter os votos necessários para dar aval ao projeto que vai permitir a reabertura.

Sócio e economista da consultoria Pezco, Helcio Takeda destaca que, encerrado o shutdown da máquina pública americana, uma série de estatísticas oficiais que não foi publicada no período será conhecida, o que dará maior segurança aos agentes para prever os próximos passos da política monetária nos EUA – e, eventualmente, endossar perspectiva de mais afrouxamento do juro.

Para Takeda, os vértices futuros de horizontes curtos cederam menos na sessão de hoje do que os demais devido à cautela do Banco Central brasileiro na sinalização sobre quando o juro básico começará a ser reduzido por aqui. Fatores como novas surpresas inflacionárias e com a desaceleração da atividade, apreciação adicional do câmbio e confirmação de que a autoridade monetária americana vai seguir flexibilizando os Fed Funds seriam possíveis gatilhos para alívio dos DIs nessa parte da curva futura, avalia.

Os investidores estarão atentos nesta terça à divulgação do IPCA de outubro, para o qual a mediana de analistas consultados pelo Projeções Broadcast projeta alta de 0,14%, após avanço de 0,48% em setembro, e também à ata do Copom. Na visão de Flávio Serrano, economista-chefe do banco BMG, a expectativa em torno destes dois dados já pode ter contribuído com o fechamento da curva no pregão nesta segunda. “Além da melhora lá fora com o fim do shutdown e da boa performance do câmbio, pode ter alguma aposta do mercado antes da divulgação do IPCA e da ata”, afirmou.

Para Eduardo Velho, economista-chefe da Equador Investimentos, surpresas com a variação dos alimentos e bens industriais no indicador oficial de inflação poderiam favorecer as apostas de início do ciclo de flexibilização da Selic em janeiro. Sobre a ata, Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, afirma que qualquer reconhecimento pelo Copom de que a inflação projetada para o segundo trimestre de 2027, atual horizonte relevante para a política monetária, estará “ao redor” da meta pode ser suficiente para o mercado fazer uma leitura mais ‘dovish’ – ou seja, mais inclinada a cortes – do documento.

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Por Redação Folha de Guarulhos.

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