Ibovespa perde força no fim, mas sustenta recorde e estende série de ganhos

O Ibovespa balançou para baixo na mínima do dia (-0,04%) no meio da tarde, mas, ainda que sem o mesmo fôlego visto de manhã, quando foi alçado ao patamar recorde de 154 mil pontos, emendou o 12º fechamento em alta, na mais extensa sequência vitoriosa desde 1997, e obteve o nono encerramento consecutivo em nível histórico. Nesta quinta-feira, 06, oscilou dos 153.234,96 até os 154.352,25 pontos, tendo iniciado a sessão aos 153.296,59 pontos. Ao fim, mostrava levíssima alta de 0,03%, aos 153.338,63 pontos, com giro a R$ 24,6 bilhões nesta quinta-feira. Na semana e no mês, avança 2,54%, colocando o ganho acumulado no ano a 27,48%.

Petrobras, que dava sustentação ao índice mais cedo, passou a operar sem direção única à tarde, mas se recuperou no caminho para o fechamento, com a ON em alta de 0,09% e a PN, de 0,52%, na contramão de leve perda na casa de 0,2% para o Brent e o WTI, em Londres e Nova York. Entre os grandes bancos, o desempenho foi misto no fechamento, com variações entre -0,89% (Santander Unit, na mínima do dia no fechamento) e +1,11% (Banco do Brasil ON). Principal ação do Ibovespa, Vale ON fechou em baixa de 0,35%. Na ponta vencedora, Rede D’Or (+8,36%), RD Saúde (+3,76%) e Totvs (+3,00%). No lado oposto, Minerva (-13,48%), Magazine Luiza (-8,58%) e Brava (-6,58%).

Andressa Bergamo, especialista em investimentos da AVG Capital, destaca os resultados trimestrais de Rede D’Or e Totvs que asseguraram ambas as empresas na ponta ganhadora do Ibovespa na sessão. E o fato de o índice ter avançado em direção a novas máximas históricas mesmo na contramão de Nova York, onde os principais indicadores de ações refletem não apenas a cautela em torno da extensão do shutdown por mais de um mês, mas também as dúvidas em torno da possibilidade de que os ativos, já esticados em especial no setor de tecnologia, possam estar refletindo uma bolha no segmento mais dinâmico do mercado.

Assim, com apoio do fluxo estrangeiro em ambiente de rotação de ações em direção a emergentes e da boa temporada de balanços do terceiro trimestre das empresas brasileiras, o Ibovespa igualou nesta quinta sequência de 12 ganhos vista também entre 15 de maio e 2 de junho de 1997, há mais de 28 anos. Em Nova York, o Dow Jones fechou em baixa de 0,84%, o S&P 500, de 1,12%, e o Nasdaq, de 1,90%.

“Fluxo de capital externo voltou a ser relevante em 2025. Metade dos recursos aplicados na Bolsa este ano vem de fora do país, em boa parte porque os juros mais baixos nos EUA tornam investimentos em mercados emergentes mais atrativos. Quando o retorno dos Treasuries cai, investidores globais buscam alternativas com maior retorno relativo e o Brasil, mesmo com alguns riscos, oferece exatamente isso”, diz Otávio Araújo, consultor sênior da ZERO Markets Brasil.

“A sessão foi mais uma vez movimentada após um comunicado firme do Copom na noite anterior sobre a Selic, sem sinal ainda de quando os juros poderão começar a ser cortados no Brasil, em uma política monetária que venha a ser menos restritiva. A atenção se volta agora para o balanço da Petrobras após o fechamento de hoje, com expectativa do mercado para distribuição em torno de R$ 12 bilhões em dividendos pela empresa”, diz Ian Lopes, economista da Valor Investimentos.

Dólar

O dólar encerrou a sessão desta quinta-feira, 6, em leve baixa, na casa de R$ 5,34, acompanhando a onda de desvalorização da moeda americana no exterior, após dados mais fracos do mercado de trabalho nos Estados Unidos estimularem apostas de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) em dezembro.

Pela manhã, o dólar chegou a experimentar uma queda mais agressiva no mercado local, tocando o nível de R$ 5,33, com investidores assimilando o impacto do tom duro do Comitê de Política Monetária (Copom) no comunicado de quarta à noite. Além da já esperada manutenção da taxa Selic em 15%, o BC mostrou convicção de que a permanência do juro básico no nível atual por “período bastante prolongado” é compatível com a convergência da inflação à meta.

O dólar reduziu o ritmo de queda ao longo da tarde e chegou até a tocar terreno positivo, com máxima a R$ 5,3632, com ajustes e realização de lucros intradia, em especial no segmento futuro. Operadores chamaram a atenção para o fato de que divisas emergentes pares do real, à exceção do peso colombiano, exibiram ganhos inferiores que o de moedas desenvolvidas.

No fim do dia, o dólar à vista recuava 0,23%, a R$ 5,3489 – menor valor de fechamento desde 8 de outubro, passando a apresentar desvalorização de 0,58% nos primeiros quatro pregões de novembro, após ter avançado 1,08% em outubro. No ano, as perdas são de 13,45%, o que faz o real exibir o melhor desempenho entre moedas latino-americanas no período.

O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, lembra que o real apresentava bom desempenho nos últimos dias mesmo em momentos de alta do índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes. O Dollar Index chegou a tocar recentemente os 100,000 pontos, atingindo os maiores níveis desde agosto.

“Hoje vemos um movimento diferente. O dólar tem uma queda mais modesta aqui. O DXY havia subido bastante e havia espaço para um ajuste. E o dia é de menor apetite ao risco no exterior, o que afeta as moedas emergentes”, afirma Costa.

No fim da tarde, o índice DXY recuava cerca de 0,50%, ao redor dos 99,700 pontos, após mínima aos 99,671 pontos na segunda etapa de negócios, com perda mais expressiva do dólar em relação ao iene e a libra. Com o avanço de hoje, o Dollar Index zera os ganhos neste início de outubro. No ano, recua cerca de 8%.

Em relatório divulgado nesta quinta-feira, a consultoria Challenger, Grey & Christmas informou que empresas sediadas nos EUA anunciaram mais de 153 mil demissões em outubro, o maior número desde 2003 e uma alta de 175% em relação a outubro de 2024.

O economista Rafael Prado, da GO Associados, observa que novos sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho americano deram fôlego às apostas em corte de juros pelo Fed em dezembro, apesar de diversos dirigentes da instituição, incluindo o chairman Jerome Powell, sugerirem que pode haver uma pausa no ciclo de afrouxamento monetário.

“Com o shutdown nos EUA, qualquer dado disponível, mesmo que não seja oficial, acaba mexendo com as expectativas, ainda mais porque o Fed parece dar mais ênfase recentemente à piora do mercado de trabalho em seu balanço de riscos”, afirma Prado.

O economista pondera, contudo, que a taxa real efetiva de juros nos EUA já está bem próxima do nível considerado neutro. Uma redução adicional dos Fed Funds poderia despertar pressões inflacionárias em um ambiente de expectativas de inflação ainda acima da meta.

“Do meu ponto de vista, uma redução em dezembro, após dois cortes seguidos de 25 pontos-base, não seria bem-vinda. Mas o mercado parece dar mais ênfase aos riscos de piora do mercado de trabalho e reforçou a aposta em novo corte, o que acabou derrubando o dólar o exterior”, afirma Prado.

Juros

Os juros futuros negociados na B3 percorreram o pregão desta quinta-feira, 06 em alta maior nos trechos curtos da curva, influenciados pelo tom conservador do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) que esfriou apostas mais otimistas para o início do ciclo de cortes da Selic.

Já os vencimentos e intermediários e longos, que abriram a sessão em queda, passaram a operar em leve ascensão na parte da tarde, em movimento visto como contido pelos agentes e possivelmente relacionado a ajustes técnicos. Em sentido oposto, o recuo dos rendimentos dos Treasuries e o bom comportamento do câmbio podem ter ajudado a atenuar uma abertura mais expressiva da curva a termo.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 subiu de 13,838% no ajuste anterior a 13,880%. O DI para janeiro de 2029 oscilou de 13,069% no ajuste de quarta a 13,080%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,375%, vindo de 13,369% no ajuste antecedente.

No comunicado que acompanhou a decisão de quarta, 05, de manter a Selic em 15%, o Copom adotou mudanças avaliadas como tênues em relação ao documento de setembro, mas contrariou expectativas de uma ala do mercado que aguardava a retirada do advérbio “bastante” que acompanhava o termo “prolongado”, como sinalização do horizonte em que a taxa básica vai ficar no patamar atual.

O comitê mostrou confiança de que a atividade econômica está em rota de desaceleração e de que a permanência do juro básico em patamar restritivo será suficiente para a convergência da inflação à meta de 3%, além de ter reconhecido que há um processo de melhora da dinâmica de preços corrente. Mas observou que a inflação cheia e as medidas subjacentes continuam desancoradas em relação à meta, e que o mercado de trabalho ainda mostra “dinamismo”.

“O BC ainda vê a necessidade de a Selic permanecer em 15% por um tempo bastante prolongado, o que provoca um novo equilíbrio de probabilidades à frente, esvaziando as chances de corte no primeiro trimestre de 2026, ainda que esta permaneça com probabilidade dominante, e aumentando as chances de o ciclo iniciar no segundo trimestre”, afirma Ian Lima, gestor de renda fixa da Inter Asset.

Estrategista-chefe da EPS Investimentos, Luciano Rostagno observa que, de acordo com a precificação da curva a termo, os cortes previstos para janeiro de 2026 passaram de 12 pontos-base na parte da manhã para 9 pontos-base por volta das 15h30. Na quarta, a redução implícita estava em 14 pontos-base.

“As mudanças que ocorreram no comunicado foram sutis, mas na direção de um Copom mais comprometido em trazer a inflação ao centro da meta e indicando que a Selic deve ficar elevada ainda por período prolongado”, afirma Rostagno. O estrategista mantém seu cenário-base de início de flexibilização monetária no primeiro mês do próximo ano, mas avalia que o texto do Copom foi o maior driver para a elevação dos juros futuros curtos nesta quinta.

“Não houve nenhum driver relevante para as curvas, à exceção do Copom, e o movimento nos juros longos me pareceu bem marginal”, concorda Laís Costa, analista de renda fixa da Empiricus Research. “O comunicado de quarta do Copom ‘limpou’ as estimativas mais otimistas de queda dos juros”, acrescenta.

Já nos vértices intermediários e longos, Marianna Costa, economista-chefe da Mirae Asset, não viu possíveis catalisadores para a abertura dos Dis nesta quinta, que foi tímida. “Não há outras notícias no radar, salvo o Copom. Pode ser ajuste técnico”, avalia.

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Por Redação Folha de Guarulhos.

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