Dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) consideraram que os efeitos das tarifas “estavam se tornando mais aparentes nos dados, como indicado pelos recentes aumentos na inflação de bens”, enquanto a inflação de serviços continuou a desacelerar, de acordo com a ata da última reunião do BC dos Estados Unidos, divulgada nesta quarta-feira, 20.
Segundo o documento, “muitos participantes notaram que pode levar algum tempo para que os efeitos completos das tarifas mais altas sejam sentidos nos preços de bens e serviços ao consumidor”.
Entre as razões citadas estão o acúmulo de estoques em antecipação às tarifas mais altas; a lenta transferência de aumentos de custos de insumos para preços finais; a atualização gradual de contratos; a manutenção de relacionamentos entre empresas e clientes; questões relacionadas à arrecadação de tarifas; e negociações comerciais ainda em andamento.
A ata do Fed ainda relatou que “as evidências até agora sugeriram que os exportadores estrangeiros estavam pagando, na melhor das hipóteses, uma parte modesta do aumento das tarifas, o que implica que as empresas e consumidores domésticos estavam arcando predominantemente com os custos”.
Alguns dirigentes destacaram que companhias teriam cada vez mais que repassar os custos de tarifas aos clientes finais. Outros, porém, disseram que estratégias como “negociar ou trocar fornecedores, alterar processos de produção, reduzir margens de lucro, impor mais disciplina salarial ou explorar medidas de eficiência, como automação e novas tecnologias”, vinham sendo usadas para evitar repasses integrais.
Votos dissidentes
A ata descreveu os motivos que levaram aos dois votos dissidentes na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) de 29 e 30 de julho.
O documento relata que os membros que defenderam um alívio monetário consideraram que, excluindo os efeitos tarifários, a inflação estava próxima da meta de 2% do comitê e que tarifas mais altas provavelmente não teriam efeitos persistentes sobre a inflação.
Além disso, avaliaram que o risco de queda para o emprego havia aumentado significativamente com a desaceleração do crescimento da atividade econômica e dos gastos do consumidor, e que alguns dados recentes apontavam para um enfraquecimento das condições do mercado de trabalho, incluindo baixos níveis de ganhos na folha de pagamento privada e a concentração desses ganhos em um conjunto restrito de setores menos afetados pelo ciclo econômico.
Na reunião, os dirigentes dissidentes foram Michelle Bowman e Christopher Waller. O encontro do FOMC, contudo, terminou com a manutenção da taxa básica de juros nos EUA.
Inflação no curto prazo
A ata do Federal Reserve mostra ainda que os membros do FOMC avaliaram que o aumento da inflação no curto prazo nos Estados Unidos parece provável, ainda que magnitude, timing e persistência da inflação sejam incertas.
O documento relata que os membros concordaram que a inflação permanecia relativamente elevada naquele momento, mas indicadores recentes sugeriam que crescimento da atividade apresentava moderação no primeiro semestre.
Membros concordaram que, ao considerar ajustes adicionais à política monetária, avaliariam dados recebidos, além da perspectiva e o equilíbrio de riscos.
Maioria considerou que risco de inflação supera risco para o emprego
Segundo a ata da última reunião do Federal Reserve, “uma maioria dos participantes considerou que o risco de inflação em alta era maior do que o risco de enfraquecimento do emprego”, embora alguns tenham visto os riscos como equilibrados e poucos tenham apontado maior preocupação com o mercado de trabalho.
Vários membros ressaltaram que a manutenção de expectativas de inflação ancoradas era central, observando que a inflação acima de 2% por período prolongado “aumentava o risco de que as expectativas de longo prazo se desancorassem”.
No balanço de riscos, dirigentes ressaltaram que, se as tarifas resultarem em uma alta “mais persistente do que o esperado da inflação, ou se as expectativas subirem de forma significativa, seria apropriado “manter uma postura mais restritiva de política monetária do que seria o caso em outras circunstâncias”.
Riscos à atividade inclinados para baixo, com enfraquecimento do PIB
A ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve indicou que a equipe técnica avaliou os riscos para a atividade como “inclinados para baixo, em vista do enfraquecimento do crescimento do PIB até agora neste ano e da elevada incerteza de política”.
Segundo o documento, a equipe técnica também avalia que as tarifas devem aumentar a inflação este ano e “fornecer alguma pressão adicional em 2026”, ao mesmo tempo em que a projeção seguia prevendo “enfraquecimento do mercado de trabalho, com a taxa de desemprego subindo acima da taxa natural estimada até o fim do ano e permanecendo acima dela até 2027”.
Na leitura do Comitê, “indicadores sugeriram que o crescimento da atividade econômica havia moderado no primeiro semestre” e que, na época da reunião, o desemprego permanecia baixo e o mercado de trabalho sólido.
Alguns membros, contudo, notaram sinais de perda de dinamismo. Já os dirigentes que divergiram da decisão de manutenção (Christopher Waller e Michelle Bowman) alertaram que o risco de queda no emprego havia crescido significativamente.
Sobre crédito, a ata relatou a avaliação da equipe técnica de que o desempenho no segundo trimestre foi, em geral, estável, ainda que “o crédito a pequenas empresas permanecesse contido, refletindo fraca demanda de tomadores”. O documento também registrou que “as inadimplências de empréstimos estudantis dispararam no primeiro trimestre após o fim do período de transição para pagamentos”, conforme a equipe técnica.