Ibovespa fecha dia em queda de 0,45% com Petrobras, mas avança 2,62% na semana

De estável ao negativo à tarde, sem conseguir reter os 136 mil pontos, o Ibovespa se inclinou abaixo no fechamento para uma queda de 0,45%. Contudo, acumulou ganho de 2,62% na semana, após ter cedido 0,81% no agregado anterior. Assim, registrou seu melhor desempenho desde o começo de julho, há mais de um mês, quando tinha avançado 3,21% entre os dias 30 de junho e 4 de julho, data em que renovou máxima histórica, a 141 mil pontos, no intradia e no fechamento. Nesta sexta, manteve-se em margem estreita, de 1,1 mil pontos, entre a mínima (135.658,71) e a máxima (136.761,09) do dia, em que saiu de abertura aos 136.526,10 pontos. O giro foi a R$ 25,4 bilhões nesta sexta-feira. No mês, o Ibovespa sobe 2,14% e, no ano, 12,99%.

“A semana foi ainda tumultuada, com a efetivação do tarifaço no dia 6, mas a temporada de balanços das empresas, em geral, tem beneficiado, assim como a descompressão na curva de juros doméstica. Na abertura, o Ibovespa se mostrou pressionado após dois dias de bons ganhos, reagindo hoje ao balanço da Petrobras, da noite anterior”, diz Bruna Centeno, sócia e economista da Blue3 Investimentos, mencionando a expectativa frustrada do mercado com relação ao lucro e ao lucro por ação divulgado pela estatal, assim como à distribuição de dividendos. “Mas Vale e bancos contribuíram hoje para amortecer parte dessa queda, com relação ao efeito da decepção sobre Petrobras para o desempenho do Ibovespa no fechamento.”

Conforme observa Centeno, o índice da B3 lutou por um relativo equilíbrio no cabo de guerra entre Petrobras (ON -7,95%, PN -6,15%, ambas nas mínimas do dia no fechamento), pós-balanço, e Vale (ON +2,37%), dois pesos pesados do Ibovespa. Contribuição positiva também foi assegurada pelo setor financeiro, o de maior ponderação no índice, com destaque no fechamento entre os grandes bancos para Bradesco PN, em alta de 1,08%. Na ponta ganhadora do índice, destaque nesta sexta-feira para Braskem (+4,41%), Eletrobras (ON +3,53%, PNB +3,41%) e Cogna (+3,37%). No campo oposto, Rumo (-9,50%) e Azzas (-7,04%), ao lado de Petrobras ON e de Lojas Renner (-7,26%), também em reação ao balanço do segundo trimestre.

“A Petrobras decepcionou o mercado com dividendos abaixo do esperado e uma geração de receita mais fraca, o que provocou forte realização de lucros nos papéis”, ressalta Christian Iarussi, economista e sócio da The Hill Capital. No cenário mais amplo, o viés defensivo dos investidores ganhou força, do meio para o fim da tarde, com relatos de que o ex-presidente Jair Bolsonaro pode não apoiar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em 2026 – também fizeram preço as declarações do presidente Lula de que Donald Trump precisa respeitar as leis do Brasil, dando prosseguimento à “troca de farpas” entre os dois, diz Iarussi.

O quadro das expectativas do mercado financeiro para o desempenho das ações no curtíssimo prazo teve poucas alterações no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, a previsão de alta para o Ibovespa na próxima semana sustenta a fatia majoritária de 50,00%, como na pesquisa da semana passada. A parcela que estima queda teve ligeiro avanço, ao passar de 33,33% para 37,50%, enquanto a que espera estabilidade caiu, de 16,67% para 12,50%.

Em um fórum nesta sexta cedo, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse que o governo acredita que o efeito macroeconômico das tarifas americanas é limitado, mas que está bastante preocupado com o impacto setorial da taxa punitiva imposta pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Isso porque alguns setores que dependem muito das vendas para o país podem ser mais prejudicados, de forma que o governo está definindo medidas para mitigar tais danos, observa Luise Coutinho, head de produtos e alocação da HCI Advisors. “O mercado espera que o pacote de medidas seja divulgado até a próxima terça”, acrescenta.

Dólar

Após passar a maior parte do dia oscilando ao redor da estabilidade, o dólar à vista se firmou em leve alta nas últimas horas de negócios e encerrou a sessão desta sexta-feira, 8, cotado a R$ 5,4361, avanço de 0,25%, interrompendo uma sequência de cinco sessões de baixa. O dólar acumulou queda de 1,97% na semana e de 2,94% nos seis primeiros pregões da semana.

O fôlego do dólar no mercado local à tarde se deu em meio à informação da Bloomberg de que o ex-presidente da República Jair Bolsonaro estaria cada vez menos propenso a apoiar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como candidato à Presidência nas eleições de 2026, segundo relatos de aliados do ex-presidente.

Operadores afirmam que, em ambiente de liquidez bem reduzida e diante do rali do real neste início de agosto, praticamente apagando as perdas de julho, a informação pode ter levado a ajustes finos e movimentos de realização de lucros.

A ascensão de Tarcísio ao Palácio do Planalto representaria para uma ala do mercado financeiro a possibilidade de uma guinada na política econômica, com controle maior das contas públicas, o que se traduziria em redução dos prêmios de risco embutidos nos ativos domésticos.

“A notícia de que Bolsonaro não deve apoiar Tarcísio pode ter mexido um pouco com o dólar em um dia de liquidez bem baixa. Como o real teve uma semana bastante positiva, com sinais de entrada de fluxo estrangeiro ontem, é possível que a questão política tenha servido hoje de motivo para um ajuste”, afirma o economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa.

No exterior, o índice DXY – que mede a trajetória do dólar em relação a uma cesta se seis divisas fortes – recuava pouco mais de 0,15% no fim da tarde, na casa dos 98,263 pontos, após mínima aos 97,959 pontos. O Dollar Index caiu cerca de 0,80% na semana e mais de 1,70% neste início de agosto.

A semana também foi marcada por perda de força da moeda americana em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities, com destaque para peso colombiano, real, florim húngaro, zloty polonês e rand sul-africano.

Além disso, a moeda brasileira pode ter sido beneficiada pela redução das tensões comerciais após o governo Lula sinalizar que não pretende taxar produtos americanos nem quebrar patentes como forma de retaliação ao tarifaço do presidente dos EUA, Donald Trump.

Costa, da Monte Bravo, vê o enfraquecimento global do dólar como principal fator para apreciação do real ao longo da semana. Ele observa que o mercado incorporou aos preços dos ativos a perspectiva de início de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em setembro, com provavelmente redução acumulada de 75 pontos-base neste ano, após o resultado fraco de geração de vagas de trabalho nos EUA em julho, revelado pelo relatório de emprego (payroll) divulgado no dia 29.

Outro ponto que levou à percepção de um Fed mais propenso a afrouxar a política monetária daqui para a frente foi a indicação por Trump na quinta-feira do presidente do Conselho de Assessores Econômicos (CEA, na sigla em inglês), Stephen Miram, para o cargo de diretor do Fed, em substituição a Adriana Kugler, que renunciou. Cresceu também a aposta de que Trump vai indicar Christopher Waller, atual diretor do BC americano, à presidência da instituição com a saída de Jerome Powell.

“Com a taxa de câmbio se aproximando de R$ 5,40, há dúvida agora é se o real tem fôlego para continuar a se apreciar. No curto prazo, isso vai depender muito se a tendência de enfraquecimento do dólar no mundo permanecer. Talvez a discussão de que o Fed pode, após o corte de setembro, acelerar o ritmo de cortes possa servir de gatilho para uma nova rodada de baixa do dólar”, afirma Costa.

Apesar da manutenção de um diferencial de juros que estimula as operações de carry trade, o economista da Monte Bravo vê duas questões domésticas que podem jogar contra o real nos próximos meses: a piora do déficit em transações correntes e a preocupação com as questão fiscal, que está muito atrelada às expectativas em torno do desfecho da corrida presidencial de 2026.

“Esses fatores têm ficado em segundo plano com o movimento global de perda de força do dólar, mas podem ressurgir nos próximos meses”, afirma Costa.

Juros

Em uma dia de agenda esvaziada de indicadores econômicos, discursos recentes de diretores do Banco Central mais inclinados a cortes de juros davam suporte à continuidade da queda das taxas futuras nas últimas sessões, assim como a percepção de melhora no ambiente institucional. Mas ruídos políticos levaram os DIs a inverterem o sinal nas horas finais da sessão. O gatilho para a piora, segundo agentes de mercado, foram afirmações atribuídas a fontes de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não deve receber apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial de 2026.

Segundo interlocutores relataram à Bloomberg, Bolsonaro está cada vez menos propenso a endossar Tarcísio na corrida presidencial. O ex-presidente parece inclinado a apoiar algum integrante de sua família como candidato. A notícia passou a circular em grupos de Whatsapp do mercado financeiro por volta das 15h20, quando as taxas deixaram as quedas para trás e passaram a operar em ascensão ao longo de toda a curva. “O mercado como um todo prefere Tarcísio”, disse um operador à Broadcast sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).

Encerrados os negócios, a taxa de contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2026 oscilou de 14,897% no ajuste de ontem para 14,905%. O DI para janeiro de 2027 aumentou de 14,087% no ajuste da véspera para 14,130%. O DI de janeiro de 2028 marcou 13,400%, de 13,377% no ajuste antecedente. O DI de janeiro e 2029 subiu de 13,267% no ajuste anterior para 13,300%.

Na ponta mais longa da curva, o DI para janeiro de 2031 também avançou, de 13,479% no ajuste de quinta-feira para 13,500%. O DI de janeiro de 2033 ficou em 13,610%, de 13,604% ontem no ajuste.

Segundo Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez, tudo caminhava para um pregão positivo no mercado de juros nesta sexta: a “confusão” institucional envolvendo o Supremo Tribunal (STF) e Bolsonaro, em prisão domiciliar, teve certo alívio; Nilton David e Diogo Guillen, respectivamente diretores de Política Monetária e de Política Econômica do BC, deram ontem e hoje indicações mais no sentido de que a Selic parou de subir, e o próximo movimento é de corte; e, nos Estados Unidos, se firma o cenário de que o Fed vai reduzir o juro em setembro.

“Tudo se encaixava para os juros fecharem a semana em queda. Mas toda vez que sai uma notícia em relação ao Tarcísio, a curva reage de forma sensível”, afirma Tavares. “Sem ele no páreo, o mercado sente um vácuo de candidatos de centro-direita, o que eleva as incertezas. Se tivessem outras opções na mesa, poderia não haver toda essa piora”.

Economista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho observa que, em um dia sem novidades no noticiário econômico, a curva de juros costuma operar mais alinhada ao dólar, que também subiu hoje ante o real. E, no campo da guerra comercial com os EUA, o governo Lula segue dando indicações de que não está disposto a ceder nas negociações com Washington, o que aponta dificuldade de alguma flexibilização do tarifaço.

Na semana, apesar do revés de hoje, o saldo ainda foi de fechamento em todas as taxas ao longo da curva, à exceção do vértice de janeiro de 2026, que rondou a estabilidade. Segundo a equipe econômica do Santander, o destaque no período foi a publicação da ata do Copom, que trouxe elementos inclinados a juros mais baixos, principalmente se comparada ao comunicado da última reunião.

Outro vetor importante que ainda fez preço sobre a curva de juros local nos últimos dias foi o payroll abaixo do previsto de julho. O principal relatório do mercado de trabalho dos EUA, publicado há uma semana, sinalizou enfraquecimento mais expressivo dos fundamentos do emprego no país, e consolidou aposta de que o Fed vai diminuir os juros em setembro. “O payroll mais fraco levou os agentes de mercado a tomarem mais riscos, o que implicou em maior alocação ao longo de toda a curva prefixada brasileira”, observa o Santander.

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