Após ter retomado nesta quarta, 2, a linha dos 139 mil pontos em fechamento pela primeira vez desde 16 de junho, o Ibovespa fez hoje uma pausa para acomodação, mas conservando a linha psicológica que o reaproxima aos poucos da marca histórica de 140 mil pontos, obtida em 20 de maio.
Neste meio de semana, o índice da B3 oscilou dos 138.383,54 até os 140.048,83 pontos, na máxima do dia, saindo de abertura aos 139.585,96 pontos. No fechamento, mostrava perda de 0,36%, aos 139.050,93 pontos, com giro a R$ 24,3 bilhões. Nas duas primeiras sessões de julho, acumula leve ganho de 0,14% e, na semana, avança 1,60%. No ano, sobe 15,60%.
Na sessão, o ajuste negativo ocorreu a despeito de alta que chegou a superar 4% na principal ação da carteira, Vale ON (+3,64% no fechamento), e de avanço em Petrobras (ON +2,10%, PN +1,78%), em quarta-feira de ganhos em torno de 3% para o Brent e o WTI. Entre os grandes bancos, as perdas foram a 3,00% (Santander Unit), à exceção de leve alta em BB ON (+0,37%) – um ajuste no segmento em geral associado à realização de lucros recentes.
Na ponta ganhadora, além de Vale, destaque também para outros nomes associados ao setor metálico, como CSN (+6,13%), Usiminas (+5,37%), Bradespar (+3,71%) Metalúrgica Gerdau (+3,25%) e Gerdau (+3,12%). No lado oposto, Assaí (-7,52%), Magazine Luiza (-6,59%), Smart Fit (-6,06%) e Localiza (-5,76%). Dando suporte ao desempenho do setor metálico, o mais negociado contrato futuro do minério de ferro em Dalian, China, fechou hoje acima da linha psicológica de US$ 100 por tonelada pela primeira vez desde 22 de maio.
“Bolsa brasileira vem de uma sequência positiva e tem preservado ganhos, em patamar alto, com os mercados americanos em máximas, também. Cenário para Brasil tende a ser um pouco mais de cautela, com os gestores precisando repensar um pouco os portfólios. Já houve leva relevante de fluxo externo, com o estrangeiro tendo sido o principal comprador na Bolsa brasileira no ano, e o local ainda pouco alocado em função da taxa da NTN-B, que tem caído – e pode dar, assim, fluxo adicional para Bolsa”, diz Felipe Moura, analista da Finacap.
Ele prevê intervalo lateralizado para o Ibovespa até que um direcional venha a se impor. “Conjecturas sobre as eleições, aos poucos, vão ganhar mais relevância, especialmente com relação ao que pode trazer de perspectiva para o fiscal.”
Nesse sentido, o UBS BB compilou dados desde meados da década de 90 de diferentes institutos de pesquisa brasileiros e notou que todos os governos que conseguiram se reeleger ou nomear um sucessor entraram no período das eleições presidenciais com popularidade na faixa de 40%, sendo 37% no mínimo. A aprovação do governo Luiz Inácio Lula da Silva é de 26% atualmente, segundo o agregador de pesquisas.
A instituição, contudo, também observou que a avaliação dos eleitores em relação ao governo geralmente melhora de 8 a 10 pontos porcentuais em anos eleitorais. “Não está claro se isso se deve a maiores gastos durante o período eleitoral, marketing de campanha ou qualquer outro motivo”, acrescenta o UBS BB, conforme relato da jornalista Caroline Aragaki, da Broadcast.
No cenário mais amplo, “os investidores continuam atentos a possíveis acordos comerciais, diante do prazo final das pausas tarifárias concedidas pelos Estados Unidos na próxima semana dia 9”, observa Nickolas Lobo, especialista em investimentos da Nomad. Em curta publicação na rede Truth Social, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta quarta-feira que firmou um novo acordo comercial com o Vietnã, que prevê tarifas de 20% sobre todos os produtos vietnamitas exportados aos EUA e de 40% sobre reexportações do país.
De acordo com relato da VNA, agência de notícias do Vietnã, o secretário-geral do partido comunista do Vietnã, Tô Lâm, confirmou que garantirá acesso preferencial para bens americanos, incluindo automóveis, em conversa por telefone com o presidente Trump. Em troca, os Estados Unidos reduzirão as tarifas recíprocas em muitas exportações vietnamitas e continuarão a trabalhar com o país para resolver problemas relacionados ao comércio, acrescenta o relato da agência.
No front comercial, além do novo acordo com o Vietnã, Trump reforçou a promessa de fechar acordos com mais 10 países após o entendimento recente com a China, diz Luise Coutinho, head de produtos e alocação da HCI Advisors. “No Brasil, o cenário político segue no centro das atenções. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a ação do governo no STF contra a decisão do Congresso que anulou o aumento do IOF é de natureza jurídica, não política ou econômica. Ele destacou que esse tipo de disputa faz parte do processo democrático, durante entrevista na Argentina após reunião do Mercosul”, acrescenta.
Em Buenos Aires, Haddad afirmou à Broadcast que a equipe econômica depende do decreto que elevou o Imposto sobre Operações Financeiras para garantir o cumprimento da meta fiscal do ano que vem, de superávit de 0,25% do PIB. Questionado sobre a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal promover uma conciliação sobre o tema, aventada por ministros da Corte, ele evitou se posicionar, mas reforçou que nunca se furtou ao diálogo, reporta a jornalista Giordanna Neves, da Broadcast.
“Não sei como o ministro Alexandre (de Moraes) vai encaminhar isso. Seria indelicado da minha parte me adiantar antes de falar com ele. Precisa de um tratamento adequado, até para evitar intriga. O que eu posso dizer é que nosso feitio, desde sempre, tem sido sentar e conversar. Eu nunca me furtei ao diálogo”, disse à reportagem.
Dólar
Após subir 0,50% ontem e ultrapassar a barreira de R$ 5,45, o dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 2, em queda firme e voltou a fechar na casa de R$ 5,42, nos menores níveis desde agosto. Operadores não identificam um gatilho específico para a apreciação do real, mas ressaltam que as divisas latino-americanas, à exceção do peso mexicano, ganharam terreno com a alta do minério de ferro e do petróleo. Dados fracos do mercado de trabalho americano também podem ter dado impulso a divisas da região, ao sugerir mais espaço para corte de juros nos EUA neste ano.
Outro ponto que pode estar por trás do fôlego extra da moeda brasileira é a perspectiva de manutenção da taxa Selic em 15% por um “período bastante prolongado”, reforçada hoje pela fala do diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, em evento no Citi. Além de desencorajar o carregamento de posições em dólar, os juros altos aumentam a atratividade das operações de carry trade.
Afora uma alta pontual no início dos negócios, quando registrou máxima a R$ 5,4812, o dólar trabalhou em baixa no restante do pregão. Com mínima a R$ 5,4162 na última hora do pregão, a moeda americana fechou em queda de 0,75%, a R$ 5,4202 – no menor valor desde 19 de agosto (R$ 5,4120).
“Continuamos vendo ingresso de recursos para aproveitar o nosso juro real elevado, de quase 10%. Parece que a disputa jurídica entre governo e Congresso não assusta os investidores estrangeiros”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, em referência ao fato de o governo Lula ter recorrido ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o decreto legislativo que derrubou o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Segundo apuração do Broadcast, ministros do STF veem a abertura de canais de diálogo para uma conciliação entre Executivo e Legislativo como uma boa saída para o impasse envolvendo o IOF. A ação do governo é relatada pelo ministro Alexandre de Moraes, que deve pedir informações às partes nos próximos dias. Cabe a ele proferir uma liminar para suspender o ato legislativo ou, ainda, submeter o processo à conciliação entre as partes.
Para Galhardo, da Treviso, se não houver aumento dos ruídos políticos locais com a queda de braço entre governo e Congresso, é possível que o real experimente nova rodada de apreciação, com a taxa de câmbio descendo até R$ 5,30, diante da tendência de enfraquecimento global da moeda americana. “Se houvesse confiança de que o governo está realmente comprometido com o equilíbrio das contas públicas, poderíamos ter um dólar mais perto de R$ 5,00”.
Com exclusividade ao Broadcast, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse hoje à tarde que a equipe econômica depende do decreto do IOF para garantir o cumprimento da meta fiscal do ano que vem, de superávit de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB).
A gestora de recursos Ibiuna Investimentos afirma que, além dos “ventos globais favoráveis”, dois fatores ajudaram o real nos últimos meses: a elevação da Selic para 15% – que “elevou o diferencial de juros e aumentou sobremaneira a atratividade das operações de carrego” – e a mudança do ambiente político, “com aumento da probabilidade de alternância do poder e, portanto, da política econômica, nas eleições de 2026”. A gestora mantém aposta em enfraquecimento do dólar com posições em euro, peso mexicano e real.
O diretor de Política Monetária do Banco Central reiterou hoje, em evento do Citi, que o regime é de câmbio flutuante e que o BC intervém apenas em caso de disfuncionalidades no mercado. O destino da taxa de câmbio, segundo David, está mais relacionado ao comportamento da moeda americana no exterior “do que com o real”.
Lá fora, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – apresentava ligeira queda no fim do dia, na casa dos 96,700 pontos. Na semana, o Dollar Index cai cerca de 0,50%. Pela manhã, relatório da ADP mostrou eliminação de 33 mil vagas no setor privado americano em junho, quando a expectativa era de geração de 115 mil postos.
Investidores aguardam a divulgação, amanhã, do relatório de emprego (payroll) de junho para calibrar as apostas para os próximos passos do Federal Reserve. Ontem o presidente do Fed, Jerome Powell, não descartou a possibilidade de corte de juros já no encontro de política monetária do banco em julho, embora tenha alertado para as incertezas e o impacto inflacionário provocados pelo tarifaço de Trump.
Juros
Mesmo com a divulgação de mais um dado que sinalizou fraqueza da atividade doméstica e alívio do dólar, a segunda etapa do pregão desta quarta-feira, 2, foi marcada por elevação dos juros futuros a partir dos vencimentos intermediários da curva a termo, enquanto os contratos curtos seguiram oscilando perto da estabilidade.
A piora na ponta mais longa foi atribuída por agentes à cautela com o cenário eleitoral doméstico, mas ocorreu também na esteira do ambiente externo. A reação negativa dos mercados à crise política no Reino Unido, onde o governo pressiona a ministra de Finanças britânica, Rachel Reeves, a se demitir, teve impacto sobre a curva brasileira.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 passou de 14,924% no ajuste anterior para 14,920%. O DI com vencimento em janeiro de 2027 fechou em 14,115%, vindo de 14,105% no ajuste da véspera. O DI que vence em janeiro de 2028 subiu de 13,287% no ajuste de terça para 13,320%. O contrato de janeiro de 2029 também avançou, de 13,09% no último ajuste para 13,150%.
O juro do Gilt (título do Tesouro do Reino Unido) de 2 anos subiu a 3,89%, o do Gilt de 10 anos avançou a 4,699% e o do Gilt de 30 anos aumentou para 5,422%. Às 18h07, a libra esterlina caía 0,81% ante o dólar.
“A abertura de juros lá fora, principalmente no Reino Unido, influenciou os juros locais”, afirmou Luis Cezario, economista-chefe da Asset 1. “A produção industrial no Brasil veio neutra, dentro esperado. O noticiário interno não afetou muito a curva hoje”, avaliou. Divulgada nesta quarta pelo IBGE, a produção industrial diminuiu 0,5% entre abril e maio, feitos os ajustes sazonais, desempenho em linha com a mediana de 32 instituições ouvidas pelo Projeções Broadcast.
Segundo Eduardo Velho, economista-chefe da Equador Investimentos, o tombo da indústria em maio corrobora a visão de desaceleração da atividade do setor e também do PIB brasileiro no segundo trimestre. Por outro lado, o segmento de serviços e o mercado de trabalho ainda estão “descolados” desta tendência. Assim, disse, o dado de produção industrial não teve impacto relevante na curva.
Cezario, da Asset 1, acrescenta que também houve abertura da curva nos EUA, embora, na sessão desta quarta, o maior vetor de alta tenha vindo da Europa.
Do lado doméstico, segundo uma fonte do mercado, um ‘tracking’ interno da Atlas teria apontado um cenário mais favorável para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2026, o que também teria pressionado a curva local, dada a preocupação com o quadro fiscal.
Durante conferência do Citi em São Paulo no início desta tarde, o Diretor de Política Monetária do BC, Nilton David, endossou a comunicação recente do Comitê de Política Monetária (Copom), ao afirmar que há dois consensos dentro do colegiado: a percepção de que a Selic em 15% está em nível restritivo; e a de que o “módulo restritivo” tem que ser maior e por período mais prolongado. As afirmações não fizeram preço no mercado de juros, mas reforçaram a avaliação de que a Selic continuará em patamar elevado por um longo período.