Não há nenhuma sinalização explícita do Copom para próxima reunião, diz diretor do BC

O diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, Paulo Picchetti, afirmou nesta sexta-feira, 23, que não há qualquer sinalização explícita acerca dos próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom), que passou a adotar uma postura dependente de dados. A declaração foi dada durante participação em evento da Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio.

Ele afirmou que o Copom vai usar os dados disponíveis até a sua próxima reunião, de junho, para definir a Selic, de olho na convergência da inflação ao centro da meta, de 3%.

Picchetti assegurou que o compromisso do comitê é com o centro da meta, e não com o intervalo de tolerância, de 1,5% a 4,5%.

“Eu chamo atenção: convergência para a meta, não é para o intervalo”, disse ele. “A gente julgou que, nesse contexto de grande certeza, o valor esperado de um guidance é negativo, e a gente deixou aberto para, nesse contexto de incerteza, poder acompanhar os novos dados que vão sair até a nossa próxima reunião, e usar isso para tomar uma decisão que tem como critério básico esse compromisso de convergência”, comentou.

Incerteza é grande candidata a palavra do ano

O diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central disse que o assunto inevitável do momento é a incerteza, “grande candidata a palavra do ano de 2025”. Picchetti observou que, no cenário atual, o dólar desvaloriza sem parar, e começou a ter prêmio de risco em ponta longa da curva dos Estados Unidos.

As tarifas anunciadas pelo presidente norte-americano Donald Trump mudaram as próprias relações entre as variáveis econômicas. “Isso é incerteza”, apontou.

Mencionando a literatura sobre a condução e uso de ferramentas de política monetária, ele lembrou que, quando as expectativas estão muito desancoradas, “você pode e deve fazer movimentos abruptos”, o que não é exatamente necessário em uma “fase mais avançada de ciclo”.

Afirmou ainda que não é simples implementar cenários na comunicação da política monetária, especialmente em um ambiente de elevadas incertezas. “Incerteza para valer é quando você não conhece a distribuição, é quando tem alguma coisa que mudou a estrutura da economia e tem alguma coisa que você não conhece num nível razoável para fazer esse cenário”, explicou Picchetti.

Ele citou o discurso do presidente do BC no evento, Gabriel Galípolo, mencionando que variáveis não observáveis representam um “desafio enorme” para estimar de forma robusta cenários possíveis. Picchetti citou como exemplo o Canadá, que traçou cenários com hipóteses alternativas a respeito das tarifas “que são muito diferentes entre si”.

“Cenários são uma boa ideia, mas tem que ser colocado com muito cuidado para não causar mais problemas do que estamos tentando resolver”, ponderou Picchetti.

Sinais incipientes de desaceleração

O diretor do Banco Central disse que há sinais incipientes de alguma desaceleração na atividade econômica, mas que o País ainda mostrará um primeiro semestre robusto. Picchetti citou os dados do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) e do Monitor do PIB da FGV, que ainda mostram setores econômicos resilientes, embora as expectativas para o agro tenham puxado muito o PIB.

“O agro puxou o PIB, mas você vê que, tirando o Agro, todos os setores estão mostrando resiliência”, frisou o diretor.

Picchetti mencionou que o Monitor do PIB e IBC-Br surpreenderam para cima nas últimas leituras, mas que as expectativas mostram que o desemprego parou de cair, com até elevação na ponta. Além disso, as sondagens de confiança dos diferentes setores econômicos feitas pelo Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV) mostram uma disseminação no sentimento de arrefecimento, o que também é observado pelo BC na condução da política monetária.

“Tem algum sentimento entre os empresários desses cinco setores que tem uma desaceleração, mas o IBC-Br e outras medidas ainda não estão mostrando isso”, ponderou o diretor, mencionando especialmente o desempenho da indústria e comércio.

Picchetti fez um aparte ainda sobre inteligência artificial, que ele considera ter potencial para um impacto gigantesco na produtividade.

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