Dólar cai e fecha a R$ 5,66 com Copom e acordo comercial entre EUA e Reino Unido

O dólar caiu quase 1,50% nesta quinta-feira, 8, e voltou a fechar abaixo de R$ 5,70 após dois pregões. O dia foi marcado por forte apetite por ativos de risco, incluindo divisas emergentes, diante de sinais promissores de arrefecimento da guerra comercial. Além de os EUA anunciarem um acordo sobre tarifas com o Reino Unido, houve acenos do presidente norte-americano, Donald Trump, à China.

O real exibiu o melhor desempenho entre as moedas mais líquidas (à exceção do peso argentino), na esteira da decisão da quarta-feira do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a Selic em 50 ponto porcentual, para 14,75%, e acenar com a manutenção de política monetária restritiva por período prolongado.

A arrancada do real reflete tanto um desmonte de posições defensivas construídas nos últimos dias na expectativa pela superquarta, com decisão de política monetária aqui e nos EUA, quanto o aumento da atratividade do carry trade. Operadores relatam também entrada de recursos para o Ibovespa em sessão de alta de cerca de 3% dos preços do petróleo.

Com perda de força adicional na reta final dos negócios, o dólar à vista fechou em queda de 1,46%, a R$ 5,6613, na mínima. Na semana, ainda acumula valorização de 0,11%, mas passou a recuar 0,27% em maio. A moeda voltou a apresentar queda de mais de 8% no ano.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY subiu mais de 1% e superou a linha dos 100,000 pontos, reduzindo as perdas no ano para a casa de 7%. As taxas dos Treasuries avançaram em bloco, com o retorno da T-note de 2 anos tocando 3,90% na máxima.

O economista-chefe da Equador investimentos, Eduardo Velho, observa que o acordo comercial entre Estados Unidos e Reino Unido diminui as tensões comerciais e mitiga os riscos de recessão nos EUA – algo que, ao mesmo tempo, fortalece o dólar em relação a divisas fortes e dá fôlego aos ativos de risco, como bolsas e moedas emergentes.

“Após a imposição de tarifas por Trump, o dólar perdeu sua atratividade como reserva de valor e investidores passaram a demandar outras moedas fortes e ouro. O acordo hoje entre EUA e Reino Unido reduziu a aversão ao risco, alterando essa dinâmica”, afirma Velho, acrescentando que a postura cautelosa do Federal Reserve, que na quarta manteve a taxa de juros inalterada, também favoreceu a recuperação do Dollar Index.

No fim da manhã, Trump anunciou que havia chegado a um entendimento com o Reino Unido e que está “muito perto de novos acordos comerciais com outros países”. O presidente norte-americano também disse que deve ter conversas “substanciais” com os chineses neste fim de semana e que as tarifas à China, hoje em 145%, devem diminuir.

À tarde, o representante comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês), Jamieson Greer, afirmou que o país pode anunciar “ao longo do mês, ou talvez até ainda nesta semana”, novos acordos comerciais bilaterais. Greer também confirmou que viajará para a Suíça neste fim de semana para dar início às negociações tarifárias com a China.

Segundo Velho, os efeitos do ambiente externo mais propício ao risco sobre a dinâmica da formação da taxa de câmbio foram turbinados pela sinalização de quarta do Copom. Mesmo se não houver um aumento residual da taxa Selic em junho, a perspectiva é de que os juros permaneçam elevados por um período prolongado.

“Isso torna o real mais atrativo e torna muito caro carregar posições na moeda americana. Dá no máximo para fazer compras táticas de dólar para operações de curto prazo, para aproveitar altas pontuais, como nos últimos dias”, afirma Velho, acrescentando que há uma melhora do fluxo comercial com sazonalidade positiva em razão da safra agrícola e retorno do capital estrangeiro para a bolsa.

Bolsa

O Ibovespa retomou nesta quinta-feira, 8, a linha de 137 mil pontos no intradia, mas não no fechamento, tendo ensaiado renovar ambos os recordes históricos estabelecidos no fim de agosto passado. Durante a sessão desta quinta-feira, o índice da B3 foi aos 137.634,57 pontos, em alta de 3,18% no melhor momento, encerrando o dia ainda com ganho de 2,12%, aos 136.231,90 pontos, tendo iniciado aos 133.457,68 pontos, nível correspondente à mínima da sessão.

O maior fechamento ainda é o de 28 de agosto, a 137.343,96 pontos naquele encerramento – enquanto no intradia, batera então a 137.469,26 pontos, marca rompida nesta quinta durante a sessão.

No fechamento, ainda assim, o Ibovespa mostrava o maior nível desde 5 de setembro, então aos 136,5 mil pontos – foi também o sexto maior patamar de encerramento já registrado pelo índice.

O giro financeiro foi reforçado a R$ 34,7 bilhões, com o apetite por risco deflagrado no exterior com a confirmação, por Donald Trump, de que os Estados Unidos assinaram nesta quinta, com o Reino Unido, seu primeiro acordo comercial “aberto e justo”. Em Nova York, os principais índices de ações marcaram ganhos de 0,62% (Dow Jones), 0,58% (S&P 500) e 1,07% (Nasdaq), desacelerando em direção ao fechamento.

Entre os principais nomes do índice, destaque para a alta de dois dígitos em Bradesco, com a ON em avanço de 14,04% e a PN, de 15,64%. Os grandes bancos deram dinamismo ao índice na sessão, após o balanço do Bradesco na noite da quarta – depois do fechamento desta quinta, será a vez de Itaú (PN +0,80%).

Destaque também para Santander (Unit +4,13%) e, entre as grandes ações de commodities, Petrobras (ON +1,69%, PN +1,39%). O principal papel do Ibovespa, Vale ON, operou perto da estabilidade, mas fechou em baixa (-0,30%), contribuindo para podar a alta final.

Na ponta ganhadora do Ibovespa nesta quinta-feira, Azzas (+22,03%), à frente das duas ações de Bradesco – destaque também para CVC (+11,06%) e Hapvida (+9,33%). No lado oposto, Minerva (-7,69%), Ultrapar (-3,69%) e TIM (-2,88%).

No plano doméstico, caiu bem aos investidores a sinalização, lida pelo mercado no comunicado da noite anterior sobre a decisão de política monetária do Banco Central, de que o ciclo de alta da Selic esteja bem perto do fim ou mesmo possa ter ocorrido na quarta-feira, quando o Copom decidiu, conforme esperado, elevar a taxa de juros de referência em meio ponto porcentual, para 14,75% ao ano.

“Comunicado foi dovish, e duas mudanças apontam nessa direção”, diz Luis Cezario, economista-chefe da Asset 1. Ele menciona, em primeiro lugar, a opção do Copom de não indicar qual seria a decisão mais provável na próxima reunião, em junho, o que assegura flexibilidade e abre porta para a interrupção do ciclo. Como segundo ponto importante, Cezario destaca que o Comitê de Política Monetária deixou de caracterizar o balanço de riscos nas projeções de inflação como assimétrico para cima – e passou a ver riscos mais elevados tanto de alta quanto de baixa.

Além do apetite por risco, com cenário um pouco mais favorável no exterior e Selic perto ou mesmo no pico por aqui, a agenda de dados domésticos desta quinta-feira também foi conducente ao aumento da exposição dos investidores a ações, destaca Inácio Alves, analista da Melver.

“O movimento de alta foi sustentado também por dados econômicos positivos, como o recorde de exportações brasileiras, que atingiram US$ 30,4 bilhões, um aumento de 0,3% em relação ao ano anterior. E o crescimento da indústria brasileira em março foi superior às expectativas, em alta de 1,2%, o que contribuiu para o otimismo dos investidores”, avalia o analista.

Juros

A desinclinação na curva de juros continuou no período da tarde desta quinta-feira e a precificação mostra o mercado praticamente dividido entre alta de 25 pontos-base ou manutenção da Selic em junho, justificando o DI curto mais resistente. Já os trechos mais longos caem, visto que o comunicado do Copom alterou o balanço de riscos retirando o termo assimetria, indicando a possibilidade de uma taxa básica menor à frente. O DI para janeiro de 2029, assim, voltou aos níveis que tinha no fim de novembro de 2024.

Às 17h20, a taxa de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 marcava 14,795%, de 14,739%, e o para janeiro de 2027 cedia para 13,980%, de 14,013% no ajuste anterior. O contrato para janeiro de 2029 caía para 13,405%, de 13,541% no ajuste anterior.

“É um ajuste de posições. A parte mais curta da curva tem ajuste para cima, refletindo que o Copom manteve em aberto a próxima decisão de política monetária e indicando que a Selic deve seguir alta por um tempo importante. Já a mais longa se apoia na mudança do balanço de riscos do BC, que retirou o termo assimetria, dando argumentos de que há espaço para ter uma Selic um pouco menor à frente”, avalia a economista-chefe da Mirae Asset, Marianna Costa.

A curva de juros precifica chance perto de 50% de alta de 25 pontos-base na Selic na reunião de junho, mas com viés de baixa, segundo a economista. A maior probabilidade é de manutenção da taxa no nível de 14,75% alcançado na véspera – o que, inclusive, é o cenário base da Mirae Asset.

Pesquisa do Projeções Broadcast desta quinta-feira mostra que a maioria do mercado (24 de 44 casas) prevê manutenção da Selic em 14,75% na reunião do Copom de junho, com uma parcela menor (19) estimando uma última elevação de 0,25 ponto porcentual.

“Chance maior é de que BC tenha pausado a alta da Selic. Consigo decidir melhor com a ata da semana que vem, mas acho que cenário maior é de que tenha parado com o ciclo e que mantenha o juro em 14,75% até o fim de 2025, podendo haver espaço para entrar em ciclo de queda entre dezembro e o início de 2026”, afirma Costa, da Mirae.

Na mesma linha, o economista Gustavo Cruz, da RB Investimentos, menciona que o mercado de renda fixa passa por movimentos de ajuste após o Copom. “Parece que ficou uma dúvida entre alguns investidores, economistas, traders, de se há chance para mais uma alta dos juros”, comenta.

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