Rotação em carteiras globais garante 7ª alta do Ibovespa; dólar cai pelo 8º pregão, a R$ 5,63

A busca por ativos de maior risco e uma rotação nas carteiras de gestores globais, na esteira do arrefecimento nas tensões comerciais entre Estados Unidos e China e da possibilidade de que a maior economia do mundo corte juros ainda neste ano, ajudaram o Ibovespa a ter sua 7ª alta consecutiva. Contudo, o índice novamente arrefeceu os ganhos no período da tarde por uma resistência técnica, ao se aproximar do pico histórico de 137.469 pontos.

O Ibovespa fechou em leve alta de 0,06%, aos 135.092,99 pontos, com giro financeiro de R$ 22,9 bilhões, distante da máxima intradia de 136.149,74 pontos (+0,84%), quando estava no maior nível em 7 meses.

O analista da Melver, Inácio Alves, considera que o índice reduziu os ganhos em relação à manhã porque, naturalmente, passou por um nível de resistência ao se aproximar do pico histórico.

Ainda assim, Alves destaca que há uma rotação nas carteiras de gestores globais, com saída de fluxo de mercados mais robustos – principalmente dos EUA – para mercados emergentes, como o Brasil, principalmente por conta da volatilidade causada por discursos do presidente Donald Trump e por dados fracos da economia americana.

O índice de confiança do consumidor nos Estados Unidos caiu a 86 em abril (ante 92,9 em março), ficando abaixo da previsão de queda a 88. Já o relatório Jolts apontou que a abertura de postos de trabalho no país cedeu para 7,192 milhões em março, também abaixo da previsão de 7,48 milhões de vagas no período.

Este apetite já é visto desde o dia 17 de abril entre os investidores estrangeiros. Segundo dados da B3, houve ingresso de R$ 7,6 bilhões na Bolsa em cinco pregões, até o dia 25 de abril (última informação disponível). Para o estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias, “a confusão” gerada por Trump em relação à política tarifária acabou introduzindo uma mudança de fluxo global.

Entre as novidades sobre tarifas nesta terça, destaque para Pequim suspendendo a tarifa de 125% sobre as importações de etano dos EUA, segundo reportagem da Dow Jones. Já a Casa Branca anunciou pouco antes do fechamento dos mercados que Trump assinou ordem executiva de tarifas sobre o setor automotivo, que evita efeito cumulativo de tarifas sobrepostas a automóveis e peças.

A Monte Bravo considera ainda que o Ibovespa, na tendência atual, deve estabelecer um novo recorde, à medida que está próximo do pico estabelecido em 28 de agosto de 2024, de 137.469,26 pontos no intradia. Contudo, a corretora destaca que a alta da Bolsa não decorre de fatores estruturais do Brasil.

Dólar

O dólar emendou nesta terça-feira, 29, o oitavo pregão consecutivo de queda no mercado local e fechou abaixo da linha de R$ 5,65, apesar do sinal predominante de alta da moeda norte-americana no exterior e da desvalorização de mais de 2% das cotações do petróleo. Operadores e analistas voltaram a relatar entrada de fluxo estrangeiro tanto para a bolsa doméstica quanto para a renda fixa, além da internalização de recursos por exportadores.

A leitura é a de queda o real se beneficia da rotação global de carteiras desencadeado pela piora das perspectivas para a economia dos EUA diante do aumento de incertezas com o tarifaço do presidente dos EUA, Donald Trump. Investidores reduzem posições em ativos americanos para buscar retorno em outros mercados.

O Brasil é atraente porque tem um mercado acionário muito descontado e taxa de juros elevada e em ascensão, dada a expectativa de que o Banco Central promova pelo menos mais uma elevação da Selic em 7 de maio. Isso aumenta a atratividade do carry trade e desencoraja carregamento de posições compradas na moeda norte-americana.

Com mínima a R$ 5,6210, o dólar à vista terminou a sessão em queda de 0,31%, cotado a R$ 5,6306.

A divisa já acumula desvalorização de 4,40% nos últimos oito pregões, vindo do nível de R$ 5,80 para a casa de R$ 5,63. Em abril, o dólar cai 1,31%, o que leva as perdas do ano a 8,89%.

“Não tem nenhum gatilho específico para a queda do dólar, mas tem fluxo para a bolsa e a renda fixa. O Brasil é relativamente menos afetado pelas tarifas. E com juro de 14% e juro real de 9%, vai atrair investimento de curto prazo”, afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt. “A incerteza é tão grande nos países desenvolvidos e na China que os investidores parecem querer diversificar inclusive em emergentes”.

Segundo dados da B3, houve entrada líquida de R$ 7,6 bilhões de investidores estrangeiros na bolsa doméstica entre os pregões dos dias 17 e 25 de abril. Apesar dessa recuperação nos últimos dias, que coincide com o movimento de apreciação do real, o saldo no mês em abril ainda é negativo em R$ 3,363 bilhões. No ano, é positivo em R$ 7,379 bilhões.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, afirma que, além de fluxo de estrangeiros para ativos locais, há um movimento de fechamento de contratos de câmbio por exportadores em razão de temores de que há uma apreciação adicional do real.

“Não tenho visto reclamações de baixa liquidez no mercado, o que sugere que estão sobrando dólares ultimamente”, afirma Galhardo, para quem há ainda um suporte forte para a taxa de câmbio em R$ 5,62. “Quando se aproxima desse nível, aparecem compradores”.

Lá fora, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – exibiu leve alta nesta terça e voltou a superar a linha dos 99,300 pontos na máxima, mas ainda acumula queda de mais de 4% em abril e perdas superiores a 8% em 2025. Em relação a pares do real, o dólar caiu em relação ao peso colombiano, ficou praticamente no zero a zero ante o peso mexicano, mas subiu na comparação com o peso chileno e o rand sul-africano.

Entre os indicadores do dia, o relatório Jolts mostrou que a abertura de postos de trabalho nos Estados Unidos caiu para 7,192 milhões em março, abaixo das expectativas dos analistas, que previam criação de 7,48 milhões de vagas. Houve revisão para baixa do número de fevereiro (7,568 milhões para 7,480 milhões). O índice de confiança do consumidor americano caiu de 92,9 em março para 86 em abril, além do esperado pelos analistas (88).

A economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, afirma que os indicadores sugerem perda de tração da economia americana e podem abrir a porta para uma queda de juros nos EUA em breve, o que tende a favorecer divisas emergentes. Para o encontro de política monetária do Federal Reserve na semana que vem a aposta majoritária é de manutenção.

“Tivemos também um maior apetite ao risco, que está muito relacionado ao fato de Trump ter sinalizado que vai afrouxar tarifas de importação para a indústria automotiva. Isso pode ter ajudado na apreciação do real”, afirma Quartaroli.

Trump assinou nesta terça à tarde ordem executiva que concede alívio a montadoras que fabricam veículos no país em relação a parte da nova tarifa de 25% sobre automóveis. Ele também afirmou que mantém “ótimas conversas com a Índia” para um acordo comercial e que está em negociação com a Austrália.

Juros

Os juros futuros até os vértices intermediários fecharam a sessão desta terça-feira em alta, enquanto os longas terminaram perto dos ajustes de ontem. O desenho refletiu a antecipação do mercado no posicionamento para o Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima semana, estimulada pelas declarações do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que ontem e hoje têm provocado um ajuste nas apostas mais otimistas para a Selic.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 14,690%, de 14,655% ontem no ajuste. A taxa do DI para janeiro de 2027 subiu de 13,90% para 13,94% e a do DI para janeiro de 2029, de 13,62% para 13,64%.

As taxas curtas estiveram em alta desde manhã e as longas resistiram perto da estabilidade, mesmo durante as mínimas dos rendimentos dos Treasuries, quando o yield da T-Note de 10 anos caiu abaixo de 4,17%. Tampouco o dólar, que chegou a furar os R$ 5,63, foi capaz de trazer alívio à curva.

Para Gustavo Rostelato, economista da Armor Capital, o mercado está passando por um processo de ajuste para o Copom de maio, em meio às dúvidas sobre a magnitude da redução da alta da Selic anunciada no comunicado de março, se de 25 pontos-base ou 50 pontos. “Os discursos do Banco Central estão bastante neutros, eles não estão mudando a comunicação e ao mesmo tempo não conseguem indicar uma direção clara para esse aumento”, afirmou.

“O mercado tinha andado muito e, com os discursos do Galípolo, deu alguns passos atrás. Havia um ânimo grande por parte dos agentes, que agora estão se reposicionando”, complementou, ponderando que os indicadores econômicos previstos até o Copom do dia 7 podem alterar esse quadro. Amanhã sai o PIB dos EUA no primeiro trimestre e na sexta-feira, o payroll de abril. No Brasil, serão conhecidos, também amanhã, o saldo do Caged e a Pnad Contínua, ambos de março.

Após ter reiterado ontem o desconforto com a desancoragem das estimativas, Galípolo disse hoje que a dinâmica da inflação continua desafiadora, o que justifica a extensão do ciclo, e que o BC está atento ao aperto já feito, que será sentido ao longo do tempo, devido às defasagens. Repetiu que o Copom vai colocar a Selic em nível restritivo o bastante, e por tempo suficiente, para fazer a inflação convergir ao centro da meta, de 3%. Ele reiterou ainda que o forward guidance de março, quando o colegiado sinalizou elevação – menor que 1 ponto para o encontro de maio, “segue vigente”. As declarações foram dadas em entrevista coletiva para comentar o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do segundo semestre de 2024.

Na semana passada, as apostas de Selic para o Copom de maio chegaram a ficar divididas na curva do DI, entre 25 e 50 pontos, e também nas opções digitais da B3, mas nos últimos dias as expectativas mais otimistas têm refluído. Por volta das 17h, nos DIs, a aposta de um aumento de 50 pontos era majoritária, com 64% de probabilidade, contra 36% de alta de 25 pontos. A projeção de Selic terminal, que na semana passada chegou a ser de 14,75%, era de 14,90%, e a precificação para a taxa no fim do ano, de 14,60%.

A agenda local foi movimentada nesta terça-feira, mas com impacto moderado sobre os DIs. O IGP-M de abril surpreendeu, com alta de 0,24% acima do teto das estimativas dos analistas (-0,16% a +0,05%), cuja mediana apontava deflação de 0,07%.

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