Ibovespa acumula alta de quase 4% e dólar cai 2,00% na semana, com menor tensão EUA-China

Depois de fechar no maior nível em 7 meses na véspera, o Ibovespa acabou oscilando entre faixas mais estreitas nesta sexta-feira. Por fim, respaldou-se nos ganhos de Nova York e fechou em leve alta, sem fôlego por conta da falta de sinais mais concretos de avanços nas negociações entre Estados Unidos e China, e pelo grande peso da queda de 2% das ações da Vale, após decepção com balanço do primeiro trimestre de 2025 e na esteira da queda do minério de ferro.

O Ibovespa fechou com leve alta de 0,12%, aos 134.739,28 pontos, mais próximo da máxima intradia de 134.992,22 pontos (+0,31%) do que da mínima. Na semana, o índice acumulou alta de 3,93%, com retorno de fluxo estrangeiro nos pregões desde sexta-feira, após 14 sessões ininterruptas de retirada de recursos.

O mercado amanheceu com a notícia de que a China reiterou não estar discutindo o embate tarifário com os EUA, após o presidente Donald Trump afirmar ontem que se reuniu com autoridades chinesas. O porta voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, acrescentou que os EUA “deveriam parar de criar confusão”.

A tarde, Trump afirmou que os EUA não vão abandonar as tarifas contra a China, a menos que o país de algo em troca. Minutos depois, o Ibovespa chegou a mergulhar para a mínima da sessão, recuando 0,29%, aos 134.840,58 pontos.

Com tantos ruídos, “fica difícil entender como estão se dando as negociações, e saber quem está falando a verdade: Trump, ou China”, comenta Rodrigo Alvarenga, sócio da One Investimentos.

Mas aos poucos o índice foi voltando a oscilar mais perto da estabilidade, por fim encerrando em leve alta, acompanhando Nova York, mas aquém do índice S&P 500 (+0,74%) e Nasdaq (+1,26%), enquanto Dow Jones fechou a +0,05%.

“Temos visto uma correlação com o mercado americano, mesmo que não estejamos subindo tanto hoje. A declaração do Trump deu a impressão pontual de que o debate das tarifas ficaria um pouco mais acalorado e o S&P 500 teve um movimento de correção, mas depois que o exterior começou a se recuperar, nossa Bolsa também acompanhou”, avalia o analista Hayson Silva, da Nova Futura Investimentos.

Especificamente hoje o índice teve grande pressão da Vale, que cedeu 2,64% após reportar um lucro líquido de US$ 1,394 bilhão, 17% menor do que no primeiro trimestre de 2024, e um Ebitda ajustado de US$ 3,115 bilhões, recuo anual de 9%. O BTG Pactual menciona que a dívida líquida expandida da mineradora alcançou US$ 18 bilhões, US$ 1,8 bilhão a mais do que no trimestre anterior, indicando que dividendos extraordinários permanecem improváveis.

Dólar

Apesar de apresentar instabilidade e troca de sinais ao longo do dia, com investidores adotando uma postura mais cautelosa diante da falta de sinais mais claros sobre as negociações entre Estados Unidos e China para redução de tarifas, o dólar emendou nesta sexta-feira, 25, o sexto pregão consecutivo de queda em relação ao real.

Com máxima a R$ 5,7074, pela manhã, e mínima a R$ 5,6647 à tarde, a moeda americana terminou os negócios cotada em R$ 5,6878 (-0,06%), encerrando a semana com perdas de 2,00%. Com isso, a divisa passou a apresentar desvalorização de 0,31% em abril. No ano, recua 7,97%.

A despeito de fala mais dura do presidente Donald Trump em relação à China hoje à tarde, a avaliação entre analistas é a de que a semana termina com um arrefecimento da guerra comercial, o que explica o bom desempenho de ativos de risco, como bolsas e divisas emergentes. Além disso, moedas latino-americanas foram favorecidas pelo anúncio de estímulos econômicos e monetários pelo governo chinês.

O gestor de macro da AZ Quest, Gustavo Menezes, destaca a mudança de tom do entorno de Trump ao longo da semana, em especial do secretário do Tesouro, Scott Bessent, que classificou o quadro tarifário atual como “insustentável” e acenou com diminuição das tensões.

“O mercado deu uma acalmada com essa ideia que vai ser preciso desescalar a guerra comercial. Antes, parecia uma briga sem fim”, afirma Menezes, ressaltando que o ambiente ainda é de muita incerteza, dado o estilo errático do presidente americano. “Hoje mesmo Trump disse que não vai fazer nada enquanto a China não oferece algo. Todos os mercados estão vivendo um dia após o outro.”

De fato, o presidente americano afirmou hoje a repórter, a bordo do Air Force One, que os EUA não vão abandonar as tarifas contra a China a menos que o gigantes asiático oferece algo em troca e que a “abertura da China seria uma grande vitória”. Acrescentou que outra pausa de 90 dias nas tarifas impostas em 2 de abril é improvável e que diversos países querem negociar com os EUA.

Menezes, da AZ Quest, observa que o real e a própria bolsa brasileira se beneficiaram recentemente da migração de posições antes concentradas nos EUA para outros mercados, em razão do enfraquecimento da tese do “excepcionalismo americano”, dada a perspectiva de enfraquecimento da atividade na maior economia do mundo com as medidas de Trump.

“Antes não sobrava muito capital para países como o Brasil. Agora vemos uma diversificação que beneficiou os nossos ativos, principalmente nos últimos 15 dias, já que o país é visto como menos prejudicado pela guerra comercial”, afirma o gestor, que abriu posição a favor do real em comparação com o peso mexicano. “Não foi um rali por mérito próprio. Estamos sendo carregados pelo mercado global”.

Para o economista André Galhardo, consultor da plataforma de transferências internacionais Remessa Online, fatores domésticos também ajudam a explicar o bom desempenho da moeda brasileira nesta semana, sobretudo a perspectiva de mais aperto monetário.

O economista discorda da interpretação de que declarações recentes de diretores do Banco Central, como a fala de ontem de Diogo Guillen (Política Econômica) em Washington, sugiram uma guinada dovish da autoridade monetária. Ele observa que o BC ainda mostra preocupação com a inflação persistente e as expectativas acima do teto da meta.

Pela manhã, o IBGE informou que o IPCA-15 desacelerou de 0,64% em março para 0,43% em abril, praticamente igual à mediana de Projeções Broadcast, de 0,42%. O IPCA-15 acumula aumento de 2,43% no ano. A avaliação predominante entre analistas ouvidos pela Broadcast foi de que resultado não permite ao BC baixar a guarda.

“Embora alguns colegas não concordem, vejo nas declarações recentes um comportamento bastante conservador. Essa postura, junto com os dados qualitativos do IPCA-15, devem levar o BC a um aumento da Selic em maio e uma alta residual em junho”, afirma Galhardo. “Isso sustenta uma taxa de câmbio menor aqui no Brasil, já que a taxa real de juros brasileira é uma das altas do mundo”.

Juros

O mercado de juros dedicou a sexta-feira à realização de lucros após a forte queda das últimas sessões, o que puxou as taxas hoje para cima. A correção, contudo, foi bastante parcial comparada ao volume de prêmios devolvidos, uma vez que não houve mudanças na percepção de que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve suavizar o ciclo de alta da Selic, enquanto no ambiente externo não há sinais concretos de evolução nas negociações tarifárias entre China e EUA. O IPCA-15 de abril, em linha com o esperado, foi visto como neutro para a dinâmica da curva.

A taxa dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,630%, de 14,572% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027, em 13,88%, de 13,79%. A do DI para janeiro de 2029 subiu de 13,55% para 13,59%.

Apesar do avanço de hoje, as taxas acumularam queda na semana, recuando em todos os trechos, com mais força no longo prazo, o que resultou em perda de inclinação em relação aos níveis de quinta-feira passada. “A semana foi muito boa para quem está aplicado. Ontem principalmente pós-Diogo. É normal haver alguma realização”, afirma o economista-chefe da Meraki Capital, Rafael Ihara.

“Houve uma reação bem forte às falas dos diretores do BC no FMI, e o pessoal vendo uma mensagem ultradovish deles. Hoje a curva devolve um pouco, não muito, bem menos do que caiu”, endossa o economista-chefe da Terra Investimentos, João Mauricio Rosal.

Segundo Rosal, as taxas tiveram um pico de estresse à tarde, em meio a ruídos causados por declarações de Trump, que teriam reforçado a percepção de que um acordo com a China está muito distante. “Fez um pouco de preço, principalmente na parte curta, mas nada muito fora do padrão. O mercado está num nível de sensibilidade tal, que qualquer headline, qualquer manchete relacionada a Trump e tarifas faz preço. Não tem nada de novo. Mas só o fato dele se manifestar já causa ruído”, afirmou.

Mais cedo, Trump reiterou que conversou “muitas vezes” com o presidente da China, Xi Jinping, enquanto representantes chineses disseram que as duas potências econômicas não tiveram qualquer diálogo. À tarde, a sensação de diz-que-diz-que aumentou, quando Trump afirmou que os Estados Unidos não vão abandonar as tarifas a menos que o país asiático dê algo em troca e que a “abertura da China seria uma grande vitória”. Ele afirmou ainda ser improvável conceder outra pausa de 90 dias nas tarifas.

“Foi mais uma corcunda. Foi e voltou”, resumiu Rosal sobre a reação da curva, acrescentando que o mercado hoje foi “largamente insensível aos dados do IPCA-15”. A inflação de 0,43% desacelerou em relação a março (0,64%) e ficou praticamente em linha com a mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, de 0,42%.

“O IPCA-15 veio neutro. De um lado, a difusão aumentou e os preços dos alimentos parecem mostrar alguma resistência no curto prazo. Por outro lado, a variação no mês e a inflação de serviços subjacentes mostraram uma dinâmica menos preocupante”, afirmou Hélcio Takeda, economista da Pezco.

Desse modo, o dado não altera a percepção de que o Copom pode ter condições já de encerrar o ciclo de altas da Selic, aplicando um último aumento da taxa em maio, alimentada pelas declarações dos diretores Nilton David (Política Monetária), Diogo Guillen (Política Econômica) e Paulo Picchetti (Assuntos Internacionais) nesta semana. Eles sinalizaram que a taxa está em nível bastante restritivo e que o aperto da política monetária talvez já tenha efeitos sobre a atividade, ainda que os sinais sejam incipientes.

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