Dólar cai pelo 7º pregão seguido e encerra abaixo de R$ 5,90; Ibovespa cai 0,65%

O dólar encerrou a sessão desta terça-feira, 28, em queda firme e abaixo do nível de R$ 5,90 pela primeira vez desde fins de novembro, apesar do sinal predominante de alta da moeda americana no exterior, em meio à nova ameaça de “tarifaço” feita pelo presidente dos EUA, Donald Trump.

Embora o peso mexicano também tenha se valorizado, após o tombo de mais de 2% ontem, operadores veem a apreciação do real ligada a fluxo de recursos para ativos domésticos, com ajustes técnicos e rebalanceamento de portfólios, dado que a moeda brasileira teria encerrado 2024 muito depreciada.

A iminência de nova alta da taxa Selic em 1 ponto porcentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) amanhã, provavelmente seguida de outra elevação de 1 ponto em março, favorece o real ao aumentar a atratividade do carry trade, mesmo que o Federal Reserve opte, como se prevê, por uma pausa no processo de corte de juros.

“Os investidores estão reavaliando suas posições, com alta dos juros aqui e estabilidade nos EUA, o que aumenta o spread da taxas. Além disso, tivemos arrecadação recorde em 2024 com a divulgação dos dados de dezembro, o que alivia um pouco o risco fiscal”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora.

Com mínima a R$ 5,8573, à tarde, o dólar à vista fechou em queda de 0,74%, cotado a R$ 5,8696 – abaixo de R$ 5,90 e no menor valor desde 26 de novembro (R$ 5,8081). Foi o sétimo pregão consecutivo de desvalorização da moeda americana, que já acumula em janeiro perda de 5,03%, após ter subido 2,88% em dezembro e 27,34% em 2024.

Com o desenlace das reuniões do Fed e do Copom já praticamente dado, a atenções dos investidores devem se voltar ao comunicado das decisões. Por aqui, o foco é a possibilidade de o Copom, na primeira reunião de Gabriel Galípolo como presidente do Banco Central, dar alguma sinalização para sua reunião em maio, uma vez que em dezembro ele sinalizou altas de 1 ponto em janeiro e março.

“O mercado costuma se antecipar as decisões de política monetária. E como a expectativa é de juro mais alto por aqui, podemos ter uma entrada de fluxo de recursos favorecendo a nossa moeda”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, acrescentando que o início do feriado em comemoração ao Ano Novo Lunar na China reduziu o volume de negócios.

Lá fora, o índice DXY – referência do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – subiu mais de 0,50%, beirando os 108,000 pontos, com ganhos maiores da moeda americana em relação ao euro e ao iene. As taxas dos Treasuries apresentaram leve alta, após terem tomado ontem com a aversão ao risco provocada pela derrocada das big techs em razão da emergência da chinesa DeepSeek, como concorrente no campo da inteligência artificial.

Ontem à noite, Trump disse que pretende impor tarifas a importações globais “bem maiores” que 2,5%, sem citar países, mas com menção a indústrias de semicondutores, aço, alumínio e cobre. O comentário veio após o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, dizer ao Financial Times ser a favor de tarifas globais iniciais de 2,5%, que seriam elevadas gradualmente.

O economista Márcio Estrela, consultor da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam), observa que, a despeito do repique hoje, o DXY está bem abaixo da linha dos 110 pontos do fim do ano passado, o que abriu espaço para que o dólar caísse em janeiro por aqui, após o que considera um “overshooting” da taxa de câmbio em dezembro. Apesar de ameaça de tarifaço, Trump adotou um tom menos belicoso em relação a China e, até o momento, não impôs tarifas efetivas a parceiros comerciais dos EUA.

“Com um Trump light, ainda sem tarifas, abriu-se um espaço para o dólar cair, principalmente em relação ao real, que perdeu muito em dezembro. E também porque o Brasil, que tem um comércio equilibrado com os EUA, não é alvo prioritário de Trump”, afirma Estrela, para quem o quadro doméstico pode começar a ter peso maior na formação da taxa de câmbio com a volta do Congresso aos trabalhos no início de fevereiro.

Ibovespa

Após ter subido quase 2% ontem, o Ibovespa sustentou a linha dos 124 mil pontos nesta terça-feira, 28, mas não conseguiu evitar o sinal negativo, em baixa de 0,65% no fechamento, aos 124.055,50. O índice oscilou dos 123.972,72 aos 124.880,76 pontos, saindo de abertura aos 124.861,27 pontos. O giro se enfraqueceu a R$ 16,3 bilhões. Na semana, o Ibovespa acumula ganho de 1,31% e, no mês, avança 3,14%.

Assim como as ações de primeira linha operaram em bloco no positivo ontem, devolveram parte ou integralmente os ganhos nesta terça-feira, com destaque negativo para Vale (ON -2,43%) e Petrobras (ON -0,24%, PN -0,13%). Entre os grandes bancos, o desempenho foi misto, com destaque para Banco do Brasil, que cedeu hoje 0,65% – após ter subido 4% ontem e fechado na máxima do dia. Bradesco PN (+0,43%) e Itaú (PN +0,18%) conseguiram encerrar em leve alta a sessão.

Na ponta perdedora do Ibovespa nesta terça-feira, Cogna (-5,00%), CVC (-4,84%) e Vibra (-4,08%). No lado oposto, IRB (+3,77%), Azzas (+1,81%) e Engie (+1,72%).

“O dia foi de realização na Bolsa, e com volume baixo. Setor de bancos teve desempenho um pouco melhor do que a média do mercado, com a proximidade do início da temporada de balanços do setor, e expectativa positiva para os números”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos. Por outro lado, o setor de mineração e siderurgia foi destaque negativo, tanto por conta da possibilidade de tarifas nos EUA como também por um relatório do Citi, em que o banco avalia que a demanda por aço e minério na China deve diminuir, acrescenta Moliterno. Neste começo de noite, a Vale traz novo relatório de produção.

Petrobras, por sua vez, operou em direção contrária ao sinal da commodity no fechamento de Londres (Brent) e Nova York (WTI). O mercado doméstico volta a prestar atenção à defasagem entre preços internos e do exterior – e a contatos entre o governo e o comando da estatal quanto a possíveis reajustes.

Amanhã, a atenção do mercado estará concentrada nas deliberações sobre juros, nos Estados Unidos e no Brasil. “Diferente do Banco Central brasileiro que tem elevado a Selic, e deve voltar a fazê-lo amanhã, com mais 100 pontos-base, o Federal Reserve deve encerrar a sequência de cortes de juros nos EUA, deixando a banda de referência entre 4,25% e 4,50%. Apesar da manutenção dos juros ser melhor que aumento, o fato de as taxas americanas permanecerem elevadas reduz as entradas de dólar que teríamos com nossos juros elevados, mantendo o câmbio alto por mais tempo”, diz Marcello Carvalho, economista da WIT Invest.

Ainda assim, o mercado continua a retirar prêmio do câmbio, após um início de governo Trump menos disruptivo do que se temia para o comércio exterior. Hoje, o dólar à vista cedeu 0,74%, a R$ 5,8696.

“Não havendo surpresas com relação aos juros nos EUA e no Brasil, o que importará, amanhã, serão os comunicados. Para os Estados Unidos, será relevante verificar em que medida serão sinalizados novos pontos de atenção sobre a resistência da inflação em convergir para a meta – e, particularmente, se serão feitas menções a potenciais medidas do novo governo”, avalia Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad. “No Brasil, os esforços estarão em tentar antecipar o ritmo de aumento e o nível terminal da Selic neste ciclo de aperto monetário. Desde a última reunião do Copom, houve mais deterioração nas expectativas para a inflação neste ano, e não tivemos avanços nas discussões sobre ajustes fiscais.”

Nos Estados Unidos, após as grandes empresas de tecnologia terem perdido US$ 1 trilhão em valor de mercado ontem, com o aparecimento de uma startup chinesa desafiadora à hegemonia americana em IA, o dia foi de recuperação parcial, com o índice Nasdaq em alta de 2,03% no fechamento da sessão, após recuo de 3,07% no dia anterior. “A DeepSeek ganhou notoriedade global com avanços que podem reconfigurar mercados e setores industriais. A inovação com uma IA mais barata e menos dependente de chips ultrapotentes trouxe volatilidade aos mercados acionários e gerou cautela entre investidores, que ainda avaliam como a tecnologia poderá afetar as principais economias do mundo”, diz Inácio Alves, analista da Melver.

Em relatório de estratégia global macro, o Citi observa que a DeepSeek é um fator de risco para a narrativa sobre o “excepcionalismo dos EUA”, ao trazer questionamento adicional quanto ao domínio das “Sete Magníficas” Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla que havia chegado ao topo em momento próximo ao da eleição americana, em novembro passado.

O Citi, contudo, avalia que o momento de alta para as ações nos Estados Unidos não se encerrou, embora o desempenho tenda a ser superado agora pelo mercado de juros americanos e, também, pelos mercados de ações na China e no Reino Unido. Na avaliação do Citi, tanto as bolsas com muita exposição a tecnologia como a commodities tendem a apresentar desempenho inferior ao das alternativas acima.

Juros

A queda dos juros futuros prosseguiu no período da tarde, respaldada pelo dólar mais fraco e por uma arrecadação de impostos em dezembro mais forte. Na véspera da decisão do Copom, operadores mencionam que a principal questão para o comunicado é sobre se a autarquia manterá o plural no parágrafo do forward guidance (o que indicaria decisão para a reunião de maio, além dos 1pp já contratados para março).

A taxa de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caiu para 15,135%, de 15,161% no ajuste anterior. O DI pra janeiro de 2027 recuou a 15,310%, de 15,357%, e o para janeiro de 2029 cedeu a 15,065%, de 15,086% ontem no ajuste.

“Câmbio mais baixo ajuda a devolver um pouco da valorização que puxou os preços de produtos importados, ajudando na projeção de inflação para o ano” e consequentemente para a curva de juros, segundo o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz. O dólar à vista recuou 0,74%, a R$ 5,8696 nesta terça-feira.

Outro ponto de atenção do mercado ficou para a arrecadação de impostos e contribuições federais, que somou R$ 261,265 bilhões em dezembro, uma alta real (descontada a inflação) de 7,78% na comparação com o resultado de dezembro de 2023. O valor veio acima da mediana coletada pelo Projeções Broadcast, que era de R$ 258,065 bilhões.

Na véspera da decisão do Copom, o mercado considera que não há dúvidas sobre a alta de 1 ponto porcentual nas reuniões de janeiro (a desta quarta-feira) e a de março. Contudo, as apostas começam a se dividir sobretudo na reunião de maio.

Pesquisa do BTG Pactual com 40 participantes mostra que as apostas para a reunião de maio estão, majoritariamente, entre alta de 50 pontos-base (cerca de 35% dos participantes) e de 75 pontos-base (aproximadamente 40%).

Em relatório, o Itaú destaca ainda que considera que a manutenção do ritmo de 100 pontos-base nas duas primeiras reuniões de 2025 do Comitê de Política Monetária (Copom) é “adequada”, sem fechar a porta para altas adicionais de mesma magnitude nas reuniões seguintes, “a depender da evolução do cenário, em particular da dinâmica da inflação e das expectativas”.

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